segunda-feira, 22 de setembro de 2008

LIVROS VESTIBULAR PUCPR - 2009

PRIMEIRA NOTÍCIA SOBRE OS LIVROS DO VESTIBULAR / 2009 - PUCPR

No site da Instituição: www.pucpr.br sobre o Vestibular / 2009 da PUCPR constam oito obras literárias sobre as quais serão elaboradas questões. Como o programa da Instituição prevê a cobrança de Literatura Brasileira do período do Romantismo à Atualidade, os livros exigidos teriam de se adequar a essa periodização.
É o que acontece, como se constata na relação apresentada:

1. Senhora, de José de Alencar
2. Dom Casmurro, de Machado de Assis
3. Poemas de Cruz e Sousa
4. Meus poemas preferidos, de Manuel Bandeira
5. São Bernardo, de Graciliano Ramos
6. Felicidade clandestina, de Clarice Lispector
7. Auto do Frade, de João Cabral de Melo Neto
8. Poemas de Paulo Leminski

I - A primeira, Senhora, de José de Alencar, é obra clássica em vestibulares e distingue-se pela temática discutida. É um romance social que pertence ao denominado estilo de época – Romantismo, aquele que predominou, na literatura brasileira, na primeira metade do séc. XIX, embora Senhora tenha sido publicado em 1875. José de Alencar faleceu em 1877 e, em 1893, postumamente, saiu Encarnação.
Como romance, embora classificado como social, Senhora segue a estética romântica em seus pormenores. A temática é que talvez seja inovadora, por tratar da compra de um marido. A linguagem, porém, é a mesma do Romantismo, lírica, poética, como se observa neste fecho do livro: “As cortinas cerraram-se, e as auras da noite, acariciando o seio das flores, cantavam o hino misterioso do santo amor conjugal”.
Sobre os personagens, principalmente Aurélia e Fernando, discutiremos em outra oportunidade.

II - Dom Casmurro, de Machado de Assis, é também obra que seguidamente
consta das relações de Concursos Vestibulares. Pertence à época do Realismo, que predominou na segunda metade do séc. XIX. Foi publicado já ao final do século, em 1899. Muitos estudiosos, infelizmente se alongam na discussão estéril se houve ou não adultério na relação entre Bentinho e Capitu, mas não percebem eles que exatamente é aí que reside o foco central do enredo, a essência da obra, que é a ambigüidade.
Os personagens centrais, Bentinho e Capitu, serão vistos proximamente, quando se enfocar a tensa relação matrimonial de ambos.

III – Os Poemas de Cruz e Sousa são obra revolucionária na literatura brasileira. Talvez tenha sido Cruz e Sousa o único poeta a assimilar por completo a estética simbolista no Brasil. Suas principais obras são: Broquéis, de 1893, e Missal desse mesmo ano. Postumamente saíram, em 1898, ano de sua morte, Evocações e, em 1890, Faróis. Estas duas obras constituem-se de poemas em prosa.
Seus poemas são verdadeiras profissões de fé simbolistas e encontram-se impregnados de símbolos ligados à brancura e a uma mística, que dão um colorido transcendental, o que confere à sua poesia o mistério, o sonho, a musicalidade.
Alguns poemas específicos serão analisados e discutidos em outra data.

IV - Meus poemas preferidos, de Manuel Bandeira, poeta nascido em Recife, mas que viveu no Rio de Janeiro. Os poemas listados pela PUCPR estão contidos em uma antologia, talvez o único defeito da lista apresentada. Por consistir em uma amostra da poesia que fez esse grande poeta lírico brasileiro, a apreciação não privilegia o todo de determinada obra, como seria de esperar. Por outro lado, há a possibilidade de se conhecer um pouco de cada obra. Foi uma escolha que fez a Instituição.
O próprio Manuel Bandeira se considerava “poeta menor”, porque há uma falsa idéia na crítica de se considerar “menor” a poesia lírica e “maior”, a épica. A sua poesia, porém, alcançou o mais alto na escala dos grandes poetas, principalmente daqueles do início do Modernismo. Ele, como muitos outros dessa fase, recebe forte influência do Simbolismo em suas primeiras obras.
Alguns de seus poemas serão enfocados numa próxima data, para se aprofundar um pouco o estudo da produção desse grande poeta.
°°°
Para que não se prolongue o texto para a postagem, ficamos aqui pelo meio da lista, com o compromisso de voltarmos logo ao assunto.

V - São Bernardo, ao lado de Vidas Secas, são dois grandes romances no conjunto da obra do grande prosador alagoano, Graciliano Ramos. Os primeiros capítulos do livro foram escritos em Palmeira dos Índios, em 1934. Nessa cidade, no interior de Alagoas, Graciliano foi eleito prefeito em 1920, mas renunciou ao cargo em 1930. A sua carreira como romancista havia iniciado em 1925, quando publicou Caetés. Ele que tivera pequena experiência no jornalismo, em 1915, no Rio de Janeiro, como revisor do jornal Correio da Manhã, volta agora, em 1933, como redator do Jornal de Alagoas. É preso em 1936 e passa por várias cadeias, período em que escreve Angústia, publicado nesse mesmo ano de sua prisão. Em 1938, publica Vidas Secas, obra que assumiu a liderança em termos de leitura e de divulgação. São Bernardo, a história do ambicioso proprietário de terras, Paulo Honório, que por seu temperamento difícil afasta de si Madalena, a professora e a mulher que escolhera para sua companheira. Estrutural e literariamente é obra mais bem acabada que Vidas Secas. Esta, por outro lado, salienta-se pela originalidade de ser estruturada em partes, como verdadeiros quadros que pareciam independentes entre si, como se construídos para serem publicados separadamente, como realmente aconteceu com a publicação de alguns contos no jornal argentino La Prensa. Entre os textos publicados encontrava-se Baleia, que viria fazer parte de Vidas Secas, publicado em 1938. Graciliano foi autor que sempre esteve preocupado com o lado metapoético de suas obras. Retoricamente, procura mostrar como se faz um romance. Ele escreve um texto em que compara o fazer poético com o trabalho das lavadeiras que lavam a roupa: uma primeira lavada, molham a roupa, torcem o pano, molham novamente, voltam a torcer. “Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar”. E conclui: “Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."

VI - Felicidade Clandestina é um dos livros de contos de Clarice Lispector. Famosa desde seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, de 1944, a autora tornou-se ao longo dos anos referência como escritora. Ao lado de Lygia Fagundes Telles são as duas escritoras mais conhecidas atualmente na literatura brasileira. Outro romance de bastante renome de Clarice Lispector é A Paixão segundo G. H., publicado em 1968. A autora com a técnica, a linguagem e a temática do Existencialismo constrói seus romances e seus contos com inigualável perfeição. Nos vinte e cinco contos de Felicidade Clandestina, e de modo geral em suas obras, no dizer do crítico: “a leitura abre as portas para uma vivência única, que retira da sua aura de clandestinidadeo encanto impossível de ser compartilhado com outras pessoas”. No conto que abre o livro e que é exatamente o que dá nome ao livro: Felicidade Clandestina, no final do texto, após narrar a alegra de conseguir emprestado um determinado livro, há uma explicação para o título: “Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia que não o tinha, só para depois ter o susto de o ter. Horas depois abri-o, li algumas linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui passear pela casa, .adiei ainda mais indo comer pão com manteiga, fingi que não sabia onde guardara o livro, achava-o, abria-o por alguns instantes. Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim”. Para concluir, pode-se dizer que em seus contos, Clarice Lispector expõe o que há em volta das coisas, a natureza com sua força inexplicada, fantasias e sonhos, além de situações íntimas e de afeto, tudo como que transmudado em delicadeza e vai ao nosso encontro para nos extasiar com a beleza do texto.

VII - Auto do Frade é o texto que representa o gênero dramático na lista da PUCPR. Escrito em versos, é obra de grande importância no conjunto da poesia de João Cabral de Melo Neto, o grande poeta pernambucano, surgido com a Geração de 45, mas que seguiu caminho próprio na poesia. A peça é baseada em um fato histórico, a execução de Frei Caneca, que era como ficou conhecido o frade Joaquim do Amor Divino Rabelo. Ele havia chefiado a Revolução de 1817 e também fora chefe da Confederação do Equador. A execução deveria, conforme o juiz sentenciou, por enforcamento, mas como nenhum dos carrascos convocados aceitou a função, mesmo com promessas de serem liberados de todos os crimes e de outras vantagens jurídicas e de outra natureza. Como havia de ser executado, acabou-se por definir que seria a sentença cumprida de outro modo. Ele seria fuzilado, como realmente o foi em janeiro de 1825, na cidade do Recife. O texto é denso e também é um texto tenso, pela dramaticidade da situação poetizada por João Cabral. Mesmo tratando-se de um texto histórico, o poeta não vai para o meramente documental e dá-lhe força com a criação sobre o tema, que se poderia entender como a luta pela liberdade. Na peça, o autor dá grande ênfase para a voz do povo, aquele que no texto assistia às cenas da próxima execução. Aparece, portanto, como no antigo teatro grego, como um coro, que prenunciava e explicava ao longo da interpretação, aqui sob a forma de A GENTE NAS CALÇADAS, A GENTE NO ADRO, A GENTE NO LARGO, etc. O desfile de Frei Caneca pelas ruas do Recife, rumo à prisão onde seria executado constitui cena forte e que impressionava a gente do povo. O Frei seguia resoluto, confiante, com ar impoluto. Era exemplo de coragem e demonstrava no semblante a certeza de encontrar-se consciente de que praticara atos em nome da liberdade e dos ideais que acalentava. Para ilustrar a calma de Frei Caneca, uma fala de A GENTE NAS CALÇADAS, que é logo do início da peça: “- Ei-lo chega como se nada / como se não fosse o condenado. / - Ei-lo que vem lavado e leve / Como ia ao Convento do Carmo.” A peça termina quando o Frei já executado seu corpo é levado à Basílica do Carmo. Aqui se exemplifica coma frase inicial do texto final, que é em prosa: “Quatro calcetas com duas tábuas ao ombro, nas quais se pode distinguir o corpo de um homem deitado, dirigem-se à porta principal da Basílica do Carmo, e deixam cair no chão, grosseiramente, o corpo que traziam.”

VIII – Os poemas de Paulo Leminski, poeta curitibano, nascido em 1945, são obra de uma atualidade paranaense, que pouco tem produzido grandes poetas. Leminski apareceu na época do Concretismo, quando publicou, em 1964, na revista Invenção, dirigida por Décio Pignatari, em São Paulo, que então se tornara o porta-voz do movimento da Poesia Concreta de São Paulo. Nessa época Leminski era bastante jovem, com apenas 19 anos. Em 1976, publicou uma obra experimental em prosa: Catatau. Embora bastante inovadora e pretensiosa, a obra não recebeu acolhida por parte do público leitor, tendo ficado mais entre os intelectuais que cultuavam o experimentalismo nesses anos de 1970. Leminski participou de inúmeros momentos da poesia surgida nos anos 70 e 80, como, por exemplo, a Poesia Marginal, aquela que se fazia e se divulgava à margem das grandes editoras. Grande admirador e conhecedor da arte oriental, Paulo Leminski publicou, em 1983, obra de fundo pedagógico: Matsuó Bashô, sobre a poesia e a influência do grande poeta japonês, criador e divulgador na literatura do Haicai, que Leminski sempre fez questão de grafar como Haikai. Ainda como admirador da cultura oriental e japonesa em especial, Leminski foi praticante de artes marciais, faixa preta e professor de judô. Grande boêmio, transitou por vários ambientes de Curitiba, quer como professor, poeta, colaborador da Folha de S. Paulo, com resenhas sobre obras literárias, mas sempre sem apegar-se muito a nenhuma dessas atividades. Em 1980, publicou uma série de poemas que incluía a obra Não fosse isso e era menos, não fosse tanto e era quase nada, e outra com o título de Polonaises. Lembre-se que o poeta era mestiço de polaco com negro. Em 1983, saiu o livro de poemas Caprichos e relaxos. Viveu em companhia da poetisa Alice Ruiz, quem foi para ele uma grande colaboradora na organização de livros e de sua obra poética. Alice Ruiz narra essa sua colaboração para a organização da obra La vie en close, c’est une autre chose, quando diz: “Em setembro de 88, espalhamos a maior parte destes poemas no chão de um apartamento em São Paulo, e, pela última vez, selecionamos juntos os poemas de um livro.” Paulo Leminski, um trabalhador consciente do fazer poético, escreve uma espécie de profissão de fé e, falando da própria poesia, escreve: “um bom poema leva anos / cinco jogando bola, mais cinco estudando sânscrito, / seis carregando pedra ,/ nove namorando a vizinha , / sete levando porrada, / quatro andando sozinho, / três mudando de cidade, / dez trocando de assunto, / uma eternidade, eu e você, caminhando junto.” Para encerrar , apresenta-se um poema em que, ironicamente, o poeta se auto-define: “o pauloleminski é um cachorro louco/ que deve ser morto /a pau a pedra / a fogo a pique / senão é bem capaz / o filhodaputa / de fazer chover / em nosso piquenique.”


Um comentário:

Cigano Manolo disse...

¡ARRIBA!

Dicas valiosas a un gitano vestibulando ...

aguardo la secuencia ...

a mi me gustaria tambien dar-le felicitaciones por el Blog que está riquísimo ...

¡Muchas Gracias por el post y hasta pronto!

Abrazos