domingo, 26 de outubro de 2008

CATULO - 3 POEMAS TRADUZIDOS

CATULO, poeta latino nascido em Verona no ano 87 a. C. deixou 116 poemas líricos, principalmente aqueles consagrados ao amor de sua musa Lésbia.
Seguem três poemas que traduzi:

CARME 3

Lugete, o Veneres Cupidinesque,

et quantum est hominum venustiorum:
passer mortuus est meae puellae,
passer deliciae meae puellae,
quem plus illa oculis suis amabat.
Nam mellitus erat, suamque norat.
Ipsam tam bene quam puella matrem:
nec sese a gremio illius movebat,
sed circumsiliens modo huc modo illuc,
ad solam dominam usque pipiabat.
Qui nunc it per iter tenebricosum
illuc, unde negant redire quemquam.
At vobis male sit malae tenebrae
Orci quae omnia bella devoratis:
tam bellum mihi passerem abstulistis!
O factum male! o miselle passer!

tua nunc opera meae puellae
flendo turgiduli rubent ocelli.

POEMA 3


Vertei lágrimas, Vênus e Cupido,
E mais aqueles homens que na vida
Por haverem amado têm sofrido:
Pois morreu o pardal da minha amada.
O pardal que, por ela protegido,
Era a delícia mais cara e que sempre,
Fora mais do que seus olhos querido.
Cantava docemente, e a minha amada
O conhecia tão bem, como a filha
Conhece a sua própria mãe querida.
Ele do colo dela não saía,
Pois minha amada a ele protegera.
E ele que, alegre, sempre ao lado dela,
Só a ela cantando agradecia.
Agora, ele morreu. Ó que tristeza!
Foi por esse caminho tenebroso
Do qual nunca jamais alguém voltou.
Malditas sois vós, ó escuras trevas,
Hades, que a tudo tendes devorado,
Aquelas coisas todas e tão belas.
Belo, também, era o pardal amado!
Por você, ó pardal, que agora morto,
Seus inchados olhinhos têm chorado!


CARME 5

Vivamus, mea Lesbia, atque amemus,
Rumoresque senum severiorum
Omnes occidere aestimemus assis.
Soles occidere et redire possunt:
nobis cum semel occidit brevis lux,
nox est perpetua una dormienda.
da mi basia mille, deinde centum,
dein mille altera, dein secunda centum,
deinde usque altera mille, deinde centum.
dein, cum milia multa fecerimus,
conturbabimus illa, ne sciamus,
aut ne quis malus invidere possit,
cum tantum sciat esse basiorum.

POEMA 5

Vivamos, minha Lésbia, e nos amemos.
E aos conselhos dos velhos mais severos
Nem ouvidos a eles nós daremos.
Porque o sol todo dia nasce e morre:
E a nossa luz brevíssima será,
Pois nós apenas uma vez morremos.
Portanto, dá-me mil e mais mil beijos,
Depois, dar-me-hás cem e mais cem mil.
Pois, quantos beijos mais viermos a dar,
Perderemos a conta dos desejos.
Todos, assim, iremos confundir,
Para que ninguém nos possa invejar,
De quantos foram nossos longos beijos.

CARME 8

Miser Catulle desinas ineptire
et quod vides perisse perditum ducas
fulsere quondam candidi tibi soles
cum ventitabas quo puella ducebat
amata nobis quantum amabitur nulla
ibi illa multa cum iocosa fiebant
quae tu volebas nec puella nolebat
fulsere vere candidi tibi soles
nunc iam illa non vult tu quoque impotens noli
nec quae fugit sectare nec miser vive
sed obstinata mente perfer obdura
vale puella iam Catullus obdurat
nec te requiret nec rogabit invitam
at tu dolebis cum rogaberis nulla
scelesta vae te quae tibi manet vita
quis nunc te adibit cui videberis bella
quem nunc amabis cuius esse diceris
quem basiabis cui labella mordebis
at tu Catulle destinatus obdura

POEMA 8

Pobre Catulo, deixe essa loucura
E o sofrimento teu todo de lado.
Considera perdido o que hoje está.
Por que antes o teu tempo não perdera
À procura de um corpo desejado.
Ela por teu amor a mais amada,
Somente desejava o que pedias
E se alegrava com o teu desejo.
Então, teus dias eram bem felizes!
Agora ela te esquece. Ó mulher!
Esquece-a, pois, também. Não te merece,
Se ela assim abandona quem a quer!
Dá-lhe também adeus, e essa mulher
Seja de ti a mais bem esquecida.
E que sempre infeliz, e sem amor,
Leve a vida que é dela merecida.
Não mais a procurar, não mais querê-la.
Ela então chorará, abandonada
Sem ninguém que a deseje em sua vida.
A quem irá amar? Ninguém a quer.
Agora sem alguém para enganar,
(A Catulo tentara algumas vezes),
A que boca e a quem irás beijar?
E que lábios molhados morderás?
Mas tu, Catulo, firme ficarás.



3 comentários:

Neuza Guerreiro de Carvalho disse...

Prof.
Depois de dar uma passada pelo seu BLOG, que me foi indicado por Maria Célia Marthirani,nem sei como me atrevo a chegar a tão grande sumidade. Não estou comentando nada porque não entendo do assunto. Não é minha área (sou biologa), apenas cumprimentando-o por seus profundos conhecimentos.
Também tenho um BLOG (????), uma colcha de retalhos onde publico de tudo. É a minha diversão. Pode acessá-lo quando quiser: www.vovoneuza.blogspot.com
Um prazer este novo contato. Neuza

M. Célia disse...

Meu amigo prof. Jayme

Que beleza poder receber, assim, gratuitamente, as tão ricas traduções que fez de Lorca e de Catulo, bem como as verdadeiras "aulas" que no dá sobre poesia.
Atrevo-me a dialogar com tanta maravilha, enviando-lhe um trecho extraído de uma crônica de nossa querida Cecília Meirelles (uma das poetas citadas em sua matéria sobre a Távola Redonda):

Da saudade

A natureza da saudade é ambígua: associa sentimentos de solidão e tristeza - mas, iluminada pela memória, ganha contorno e expressão de felicidade. Quando Garrett a definiu como "delicioso pungir de acerbo espinho", estava realizando a fusão desses dois aspectos opostos na fórmula feliz de um verso romântico(...)
Há uma saudade sábia, que deixa as coisas passarem, como se não passassem. Livrando-as do tempo, salvando a sua essência de eternidade. É a única maneira, aliás, de lhes dar permanência: imortalizá-las em amor. O verdadeiro amor é, paradoxalmente, uma saudade constante, sem egoísmo nenhum...
Abraço!
Parabéns pelo blog!
M. Célia

Jayme Ferreira Bueno disse...

Maria Célia,
a escritora sempre generosa em palavras para comigo. É muito bom tê-la como leitora das pequenas coisas que escrevo.
Saiba que admiro a sua obra literária e quero vê-la crescendo sempre como autora e como pessoa.