Menotti del Picchia (São Paulo, 20.03.1892 —23.08.1988) é um daqueles poetas da Semana de Arte Moderna que ficaram um pouco esquecidos. Talvez isso se deva à dissensão com o grupo que se impôs como o principal do Modernismo, com Mário e Oswald de Andrade à frente. Nada disso, porém, tira o valor que a sua poesia ostenta.
Como a maioria dos poetas daquela época, Menotti tinha vindo de movimentos estéticos anteriores, principalmente do Parnasianismo e do Simbolismo. Às vezes esses poetas praticavam uma espécie de síntese dessas duas tendências. Assim, é comum encontrar-se o Soneto, como uma das formas recorrentes na poesia desses autores.
O Soneto é uma forma universal e atemporal. Desde a época do Renascimento com a poesia clássica, quando surgiu até os nossos dias, ele sempre terá cultores e admiradores.
Pessoalmente, prefiro para a nossa época os poemas livres, como os dois últimos destes três. Sinto que neles Menotti se manifesta com mais espontaneidade.
SONETO
Soneto! Mal de ti falem perversos
que eu te amo e te ergo no ar como uma taça.
Canta dentro de ti a ave da graça
na gaiola dos teus quatorze versos.
Quantos sonhos de amor jazem imersos
em ti que és dor, temor, glória e desgraça?
Foste a expressão sentimental da raça
de um povo que viveu fazendo versos.
Teu lirismo é a nostálgica tristeza
dessa saudade atávica e fagueira
que no fundo da raça nos verteu
a primeira guitarra portuguesa
gemendo numa praia brasileira
naquela noite em que o Brasil nasceu...
NIRVANA
Quisera ficar a teu lado
No grande êxtase pacífico
do nosso silêncio.
Continuar indefinidamente
o diálogo mudo dos nossos olhos.
Quisera
diluir-me em ti como um aroma no vento
como dois rios que fundem suas águas
no abraço do mesmo leito
e correm para o mesmo destino...
Somos duas árvores solitárias
que entrelaçam suas ramas:
à mesma brisa estremecem
florescem
envelhecem
e morrem...
POEMA XXX
Encontraremos o amor depois que um de nós abandonar
os brinquedos.
Encontraremos o amor depois que nos tivermos despedido
E caminharmos separados pelos caminhos.
Então ele passará por nós,
E terá a figura de um velho trôpego,
Ou mesmo de um cão abandonado,
O amor é uma iluminação, e está em nós, contido em nós,
E são sinais indiferentes e próximos que os acordam do
seu sono subitamente.
sábado, 24 de janeiro de 2009
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7 comentários:
Olá, Prof. Jayme.
Que poemas lindos...
De fato, um grande poeta como Menotti Del Picchia não pode deixar de ser lembrado e admirado.
Parabéns pela escolha dos poemas. Belos demais.
Forte abraço,
Taninha
Obrigado, Taninha.
Você sempre tem apoiado este blog com a leitura e com as indicações que tem feito aqui no seu blog e também por meio de e-mails.
Que bom que encontrei uma leitora sensível!
Parabéns pelo seu BLog!
Prof. Jayme. Estou aqui por indicação da Taninha.
Fiquei emocionada com tão bela escolha em versos . Magníficos!
Parabéns por exibir versos tão belos e compartilhar conosco.
Grata
Mirse
Fabiana,
pois somos conterrâneos, embora não contemporâneos. Descobri o Yapoarte, quando pesquisava sobre colegas dos anos 50, quando cursamos o antigo Científico.
Foi uma boa descoberta. Posso, assim, atualizar-me com os acontecimentos da terra em que nasci.
Obrigado por ter visitado o meu blog.
Mirse,
a Taninha tem sido uma grande incentivadora deste espaço. Devo muito a ela.
Obrigado por ter visitado o blog e pelas palavras sobre a seleção de poemas que postei.
Continuemos com nossos blogs, porque eles proporcionam o contato com pessoas muito especiais.
O último poema referido Poema XXX (Encontraremos o amor depois que um de nós abandonar
os brinquedos...), tenho visto referenciado como sendo da autoria de Augusto Schmidt e não de Menotti del Pichia.
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