segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

TRÊS SONETOS DE FLORBELA ESPANCA

Florbela nasceu no dia 8 de dezembro de 1894, em Vila Viçosa, distrito de Évora, na região do Alentejo, em Portugal. Foi batizada como Florbela Lobo, sobrenome de sua mãe, pois seu pai, de sobrenome Espanca, ironicamente não a perfilhou. Na sua certidão de nascimento consta: "filha de pai incógnito". Ela, porém, talvez pela imagem de um pai boêmio e complexo no modo de viver, preferiu seguir, no nome e no modo de viver, o pai que a não reconhecera.
Aos 8 anos de idade escreveu um soneto, A Vida e a Morte. Em 1919, publicou o primeiro livro de poemas, com edição às suas custas, numa tiragem de apenas 200 exemplares. Quatro anos depois, surgiu o segundo.
Florbela não alcançou reconhecimento na sua época. Poucos foram os críticos que souberam valorizar a sua poesia. Um desses poucos foi o idealizador e grande líder da revista Presença, o grande poeta, José Régio. Disse ele: “A sua poesia é dos nossos mais flagrantes exemplos de poesia viva”. Poesia viva, para Régio, é aquela que nasce, vibra e se alimenta do próprio autor; no caso, da vivência da própria Florbela Espanca.
Com o passar do tempo, porém, o nome e a obra de Florbela foram ganhando cada vez maior reconhecimento, principalmente dos leitores. É considerada hoje, pela força de sua poesia, a maior poeta feminina de Portugal. É também consenso em Portugal que Florbela é um dos quatro grandes sonetistas da literatura portuguesa: o clássico, apaixonado e filosófico Camões; o árcade e lírico intimista Bocage; o metafísico poeta realista Antero e ela, Florbela, a jovem que viveu um dos dramas mais intensos como mulher e como poetisa.


AMIGA
Deixa-me ser a tua amiga, Amor,
A tua amiga só, já que não queres
Que pelo teu amor seja a melhor,
A mais triste de todas as mulheres.

Que só, de ti, me venha mágoa e dor
O que me importa a mim?! O que quiseres
É sempre um sonho bom! Seja o que for,
Bendito sejas tu por mo dizeres!

Beija-me as mãos, Amor, devagarinho...
como se os dois nascêssemos irmãos,
Aves cantando, ao sol, no mesmo ninho...

Beija-mas bem!...Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei prá minha boca!...

OS VERSOS QUE TE FIZ

Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer!
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Têm dolência de veludos caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer!

Mas, meu Amor, eu não tos digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz!

Amo-te tanto! E nunca te beijei...
E nesse beijo, amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz!

SE TU VIESSES VER-ME HOJE À TARDINHA
Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,

A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
]O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...

4 comentários:

Jozieli disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jozieli disse...

Olá! Acabo de ler um texto de Miguel Sanches Neto na Gazeta sobre o poeta paranaense Colombo de Sousa. Como deve ser do seu conhecimento, em algumas linhas Miguel cita o senhor e esse blog. Dei por mim procurá-lo e me encantei o que é feito aqui. Esse resgate que o senhor vem realizando é louvável, parabéns (tais pompas devem ser destinadas ao senhor incontáveis vezes, mas aceite as minhas; é apenas o reconhecimento de alguém que admira a boa poesia e benfeitores como o senhor, que mostram caminhos até então quase que virgens, e que acredita que essa geração há te der salvação se aprender a andar por estas estradas de chão, cobertas de versos e pedras).
Gostaria de abusar da minha intromissão, e pedir para o senhor, se possível, me enviar alguma informação sobre o Colombo de Sousa, ou então somente o link aqui do seu blog da parte que coube ao poeta, citada na Gazeta.
Ah, o senhor também escreve... então dando corda ao abuso, envie-me alguns escritos seus, por favor, se o senhor puder (ou achar que não seja de todo mal).
Meu e-mail é jozieli@hotmail.com
Desde já agradeço. O senhor ganhou uma nova leitora do seu blog!

Jayme Ferreira Bueno disse...

Jozieli, é muito bom e recompensador tê-la como leitora. Entrei em contato por e-mail e enviei o pouco que tinha sobre o poeta Colombo de Souza.
Obrigado pelo contato.

Unknown disse...

Sr Jaime, boa tarde!
Gostaria em obter alguns dados de Colombo de Sousa, magnifico poeta!!!Mas não consigo encontrar foto e dados.
Agradeço a sua att.
Abs poéticos


(debbyeblue@msn.com)