quarta-feira, 16 de maio de 2012

1950 1. O despertar Dia 1.º de janeiro de 1950, eu, o dia, o mês e o ano acordamos cedo com o toque da Alvorada. A cidade também. O corneteiro do quartel em frente chamava os companheiros para um novo dia, e era ali naquele regimento bem defronte à casa em que eu morava. Certo dia, meu pai me deixara ali, naquele lugar, na cidade de Castro. Era final do ano de 1949. Eu teria de me quedar só, ainda aos 11 anos, afastado de minha mãe, de meu pai e de meus irmãos. Era o dever que me colocava em tal e tão difícil situação. Eu teria de me preparar para o ingresso no curso ginasial. Estudar era preciso. Sofrer não era, mas eu iria sofrer. Soara, então, a Alvorada. Naquele quase um minuto, o soldado se esmerara naquelas notas musicais. O som parecia sair do íntimo do peito de quem soprava a corneta. Estaria ele acordando os colegas, a cidade, ou acordando a si mesmo? Fosse o que fosse conseguira o seu intento. Até o imóvel Duque de Caxias, ali na frente das sentinelas, naquele momento da Alvorada, pareceu acordar do seu sono granítico e como que se aprumou na base de pedra, para, logo em seguida, retomar a sua posição impassível de militar impoluto, respeitador e respeitado. O toque vibrante se fazia ouvir longe e havia como um sentimento de vibração esparso pelo ar. O soldado conseguira, sim, o que desejara. Tocara a alma das pessoas. Tudo seria diferente pelas redondezas. Apesar de ser domingo, Castro acordou cedo. Logo, pela rua passou uma carroça, depois uma bicicleta e, por último, pessoas caminhando. Vinham das proximidades, das fraldas do Morro do Ferro, ou da Vila Frei Mathias, ou ainda da Colônia Santa Leopoldina, talvez de mais longe, do Tronco. Eram verdureiros, leiteiros, padeiros, pessoas que iriam à missa das 7h. A cidade, enfim, retomaria o seu ritmo depois de uma longa noite sonolenta. O Iapó faria suas águas dançarem como valsaram ao som de Ondas do Iapó.

Um comentário:

Daniel Osiecki disse...

Olá, professor. Belo texto, repleto de imagens e de memória. Vai entrar pra algum livro? Espero que sim. E o Estrelícias? Quando sai? Tive que criar um novo blog, dê uma olhada lá. Estou escrevendo um texto sobre o teu livro, Quadros da mimha vida. Em breve publico lá. Um grande abraço.
Daniel