sábado, 19 de dezembro de 2009

CRISTOVÃO TEZZA - UMA CRÔNICA: ZELIG À BRASILEIRA

1. Cristovão Tezza

Cristovão Tezza, o professor, o intelectual.
Tezza, o preocupado torcedor do Clube Atlético Paranaense

O paranense nascido em Santa Catarina, é, hoje, um dos grandes escritores brasileiros e inclusive reconhecido no mundo, principalmente depois de ter suas obras traduzidas e publicadas em vários países da Europa. Personalidade versátil e bastante jovem, já foi um pouco de tudo na vida: ator de teatro; aluno da Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante; relojoeiro; viajante meio clandestino pela Europa depois de não poder seguir o curso de Letras em Coimbra pelo acontecimento histórico português, a Revolução dos Cravos, de 25 de abril de 1974; Professor de Língua Portuguesa na Unaiversidade Federal de Santa Catarina; depois, professor na Universidade Federal do Paraná.
Desta última, recentemente solicitou demissão como nos conta na crônica Adeus às Aulas:
"Se é verdade que um bom texto é aquele capaz de transformar a vida, acabo de escrever uma obra-prima. Quem me conhece sabe que não sou de alardear minhas poucas e ralas qualidades, mas dessa vez não resisto ao impulso cabotino. Pois as cinco linhas que redigi, enxutas e precisas, atentas à força da tradição e com um toque tranquilo de modernidade, têm (modéstia à parte) essa perfeição transformadora. Em suma: pedi demissão da Universidade em que dou aulas há 24 anos. O requerimento ganhará alguns carimbos, duas ou três rubricas, rolará pelos escaninhos e em breve estarei livre co­­mo um pássaro".
Como escritor, é ensaísta, co-autor de livros didáticos, poeta, contista, romancista. Depois dos quatro livros iniciais, começou a ser conhecido nacionalmente com o romance Trapo, de 1988. Desde então destaca-se como grande romancista, principalmente com O Filho Eterno, de 2007. Foi com este livro que Tezza alcançou dimensão verdadeiramente internacional. A obra foi publicada em Portugal, na França, Itália, Holanda e na Espanha, em língua catalã. Em breve, o romance sairá na Austrália e na Nova Zelândia.
É um grande colecionador de Prêmios: Prêmio Petrobrás de Literatura, 1989, com Aventuras Provisórias; Prêmio Machado de Assis da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (melhor romance do ano), 1998, com Breve Espaço entre a Cor e a Sombra; Prêmio da Academia Brasileira de Letras de melhor romance do ano e o Prêmio Bravo! de melhor obra, 2004, com O Fotógrafo. Com o último romance O Filho Eterno, recebeu: Prêmio da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) de melhor obra de ficção do ano; em 2008, recebeu os prêmios Jabuti de melhor romance e o Prêmio Bravo! de melhor obra; Prêmio Portugal-Telecom de Literatura em Língua Portuguesa (1.º lugar) e Prêmio São Paulo de Literatura, melhor livro do ano; em 2009,recebeu o prêmio Zaffari & Bourbon, da Jornada Literária de Passo Fundo, como o melhor livro dos últimos dois anos.
É autor de textos, principalmente crônicas, para vários periódicos: revista Veja; jornal Folha de S.Paulo; Caderno Ilustrado, da mesma Folha de S. Paulo; e O Estado de São Paulo. Como um dos cronistas do jornal Gazeta do Povo, de Curitiba, tem publicado semanalmente crônicas fundamentais para o jornalismo e para a literatura.
Concluindo esta breve notícia sobre o homem, o escritor e o ex - mas eterno professor - Cristovão Tezza, reproduzo o comentário da blogueira Camila Batista, também atleticana, como se confessa: "Io sono atleticana, insegnante d'inglese, correttore di bozze e persona normale nel mio tempo libero": "Quem foi aluno do Tezza, foi; quem não foi não será mais: - 15th Dec, 2009", o que será uma grande pena! Mas, com certeza, perde-se, formalmente, um professor do ensino superior, mas, com certeza, ganha-se um escritor ainda maior e, assim, eterno professor de literatura e de vida.

2. Uma crônica: Zelig à Brasileira
Lula me lembra Zelig, o hilariante personagem do filme homônimo de Woody Allen, que vai se transformando fisicamente diante dos outros, para ficar parecido com eles. Como no “documentário” sobre Zelig, o tempo todo vemos nosso herói sorrindo com Obama na Casa Branca, falando sério em Copenhague, altissonante no Mercosul, companheiro na Bolívia, nobre em Buckingham, comunista em Cuba, católico no Vaticano e por aí vai. Segundo a tradição miscigenante da cultura brasileira, Lula, como Zelig, transforma-se camaleônico no que for preciso de modo a ficar sempre no mesmo lugar – é uma “metamorfose ambulante”, como ele mesmo se definiu. Na lógica astuta do país, tudo se rege por um senso perpétuo de amortecimento de conflitos e adequação biológica ao meio ambiente.
Seu governo é a expressão de nada; o herói carismático vê-se carregado nos ombros da mais azeitada e obediente máquina partidária do Brasil moderno, que funde um projeto messiânico-revolucionário com a burocracia democrática colocada a seu serviço, a cada dia mais esvaziada politicamente. A única ideologia que resta é uma política externa esfarrapada que dá tapinhas nas costas de Ahmadinejad e ruge furioso contra a eleição de Honduras, que poderia, pela simples força do bom-senso, recolocá-la nos trilhos; que devolve em poucas horas à ditadura cubana dois atletas fugitivos e resiste tenazmente a extraditar para a Itália alguém condenado por crimes comuns num Estado de Direito. Fala em “pragmatismo” e perde todas as eleições em que se mete nos fóruns internacionais, enquanto ri na fotografia.
O imenso Brasil popular que veio à tona por força do Plano Real e do otimismo econômico dos anos 90 parece ter encontrado em Zelig o seu mantra político-religioso. O que fazer com o povo brasileiro que, súbito, está nas ruas, de celular na mão direita e tacape na esquerda? Nada a estranhar nos maços de dinheiro enfiados em cuecas e bolsos do DEM e do PT, abençoados por rezas compungidas de ladrões sinceros – como Lula se apressou a dizer, são cenas “que não falam por si”. Afinal, o país de maior mobilidade social do mundo é também o único em que um deputado fraudando um painel de um Congresso Nacional vai se tornar em pouco tempo, inocente, governador do Distrito Federal.
Nada melhorou em nenhuma área. A educação básica patina nos seus piores índices de sempre – enquanto abrem-se dezenas de universidades federais prontas a ocupar o rabagésimo lugar de relevância sob qualquer critério. A lógica que nos arrasta é a da mendicância e a do pátio dos milagres – empresários mendigos, políticos mendigos e povo mendigo, esperando de boca aberta e mão espalmada o sorriso de Silvio Santos a jogar dinheiro na plateia. Faltava um bom ator para o papel – o próprio Silvio Santos até que tentou, mas levou uma rasteira jurídica mais esperta ainda na alvorada de Collor. Agora, Lula é o cara.
(Gazeta do Povo, 15/12/09, p. 3 - contato@cristovaotezza.com.br)

3. Comentário
Comentar é totalmente desnecessário. Aí está um retrato vivo do que vivemos. Temos um líder mundial, "o cara"!... mas quem ganha o Prêmio Nobel da Paz é outro, "the man"!... temos um defensor do meio ambiente... que exige sejam as despesas pagas pelos outros países, como se mandasse no mundo! (chega a lembrar Carlitos, em O Grande Ditador, a dar piparotes em um grande balão com o mapa-mundi); antes, tínhamos exames - ENC, ENEM - exemplos para o mundo em termos de avaliação educacional, hoje esses exames são fraudados, anulados, desprezados por alunos e universidades, tudo por incompetência de técnicos elevados a altos cargos por força da Carteirinha do PT.
Diz-se popularmente que "não se deve dar o peixe, mas ensinar a pescar". O povo brasileiro jamais será pescador! Para quê? Recebe as mais estranhas bolsas para não ter que trabalhar, nem mandar seus filhos à escola. Estudar? Com que finalidade, se há outros critérios para ingressar em uma Universidade, que não é o da competência? E para vencer na vida?
O Silvio Santos com suas histrionices - histrionice, no sentido original do termo - é mais correto no proceder. Distribui dinheiro claramente à frente das câmeras da sua rede de TV criada e mantida pelo tino comercial do eterno camelô que foi e que deseja continuar a ser. Sorri satisfeito pela migalha que distribui a quem vai até a um auditório em procura do pequeno óbulo. E o que dizer do governante que só repete que "não sabe de nada"?
Parabéns, Tezza, por cumprir com sua arte a função social de formador de opinião! Abrir os olhos do povo é preciso! Viver nas trevas da ignorância não é preciso! (Homenagem a navegadores antigos e a Fernando Pessoa).

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

NEUZA APARECIDA RAMOS – Uma Enfermeira a Serviço da Educação


1. Neuza Aparecida Ramos: a trajetória de uma enfermeira

O convívio na Universidade Católica do Paraná, mais tarde Pontifícia Universidade
Ao longo do exercício do magistério superior, tive a oportunidade de conviver com educadores das mais diversas áreas do conhecimento. Uma educadora que sempre esteve presente na luta pelo ensino e pela formação de profissionais competentes e com consciência social foi a Enfermeira Neuza Aparecida Ramos.
Participamos juntos ou em paralelo de diversos projetos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – PUCPR por mais de três décadas. Trabalhamos na criação de cursos; em comissões da carreira docente; em bancas examinadoras de concursos de professores; em exames seletivos de estudantes; em análises de documentos dos Conselhos Superiores da Instituição; na Pró-Reitoria de Graduação, quando ela exerceu o cargo de Pró-Reitora; enfim em atividades acadêmicas e de assessoria à Reitoria da PUCPR.
Na Universidade Católica, ela exerceu a direção do curso de Enfermagem; a vice-direção do CCBS - Centro de Ciências Biológicas e da Saúde; Pró-Reitora; Diretora da Biblioteca, dentre outros elevados cargos universitários. Cursou o Mestrado em Educação, no qual a conheci como aluna dedicada e consciente daquela forma de aperfeiçoamento universitário e profissional. A professora Neuza sempre foi referência como pessoa, docente, profissional e gestora da Educação.
Por essas e outras qualidades, recentemente Neuza Aparecida Ramos recebeu honroso convite de uma sua ex-aluna, Juliana Rodrigues, doutoranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo – USP, para depoimento sobre a trajetória como Enfermeira. Suas declarações passaram a fazer parte de um trabalho acadêmico para o curso de doutorado em Enfermagem, na Universidade de São Paulo. O texto foi publicado com o título A trajetória de uma enfermeira: Neuza Aparecida Ramos na Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília: maio/jun. 2009, v. 62, p. 400-6.
2. A formação e o exercício da profissão
Após a parte introdutória que normalmente aparece nas dissertações e teses e na qual se colocam tema, objetivos, metodologia e outros dados relativos a o estudo, chega-se ao depoimento. Inicialmente, faz-se um relato sobre a formação e o início da carreira como Enfermeira, cursos de aperfeiçoamento e de pós-graduação, atividades em hospitais, dentre os quais o recém-inaugurado Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Segue-se uma vasta lista de trabalhos desenvolvidos e o seu ingresso no magistério, primeiramente na Escola de Enfermagem Madre Leonie, estabelecimento pioneiro da Enfermagem em Curitiba e que mais tarde passou a fazer parte da PUCPR. Com a incorporação do Hospital Cajuru pela Universidade Católica, Neuza assumiu o cargo de diretora do Serviço de Enfermagem. Com bolsa do Ministério de Educação, fez curso de Administração Hospitalar na França, na École Nationale de la Santé Publique, na cidade de Rennes, região da Bretanha.
No magistério superior na PUCPR, Neuza Aparecida Ramos trilhou toda uma trajetória de atividades e cargos, como já se expôs neste texto, sempre enfrentando e superando desafios próprios de uma carreira de sucesso.
3. O futuro da profissão
Falando sobre o futuro da profissão, Neuza Aparecida Ramos declara:
“Vejo um futuro promissor para a profissão. A demanda pelo curso vem aumentando, o que possibilita melhor seleção dos candidatos. E como toda profissão que cresce precisa se preocupar com a formação de seus profissionais. As escolas terão que preparar os jovens para viverem novas concepções de mundo, de sociedade, de ser humano e de humanidade. Seus currículos deverão contemplar não apenas o ensino dos fenômenos físicos, biológicos, químicos ou sociais, mas também, os políticos, filosóficos e os religiosos”.
O amor à profissão fica claro ao longo de todo o depoimento. Afirma: “Se eu tivesse que escolher hoje uma profissão, começaria com a Enfermagem de novo”.
Nas Considerações Finais do trabalho, a autora, Juliana Rodrigues, destaca a importância da publicação: “possibilitou-nos resgatar a história de vida de uma testemunha ocular de fatos importantes da História da Enfermagem Brasileira e do Paraná, assim como verificar a participação efetiva desta enfermeira na construção e desenvolvimento da enfermagem”.
4.
Para mim, que convivi e participei de muitas das atividades na PUCPR ao lado da Enfermeira Neuza Aparecida Ramos é uma satisfação este reencontro motivado por um trabalho acadêmico de uma sua ex-aluna, doutoranda na USP. Tenho a certeza que Juliana Rodrigues seguirá os passos de sucesso de sua mestra. A Enfermagem irá ganhar muito com a atuação da futura doutora em Enfermagem.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

OS CEM LIVROS ESSENCIAIS DA LITERATURA BRASILEIRA

1. Uma outra lista
Retornamos a uma outra lista. Antes, foi sobre os 100 gênios da literatura universal. Esta se refere aos cem livros da literatura brasileira considerados essenciais pela revista Bravo!, edição especial de 2009. Como os próprios organizadores comentam na Carta do Editor: “É evidente que este ranking das 100 obras obrigatórias da literatura não encontrará unanimidade entre os leitores. Alguns discordarão da ordem, outros eliminariam títulos ou acrescentariam outros”. Eu não farei nenhuma dessas alterações, inclusive por considerá-la uma boa lista.
2. Eis a lista
1. 200 Crônicas Escolhidas, Rubem Braga; 2. A Alma Encantada das Ruas, João do Rio; 3. A Coleira do Cão, Rubem Fonseca; 4. A Escrava Isaura, Bernardo Guimarães; 5. A Estrela Sobe, Marques Rebelo; 6. A Moreninha, Joaquim Manuel de Macedo; 7. A Obscena Senhora D, Hilda Hilst; 8. A Paixão Segundo G. H., Clarice Lispector; 9. A Rosa do Povo, Carlos Drummond de Andrade; 10. A Senhorita Simpson, Sérgio Sant'Anna; 11. A Vida como Ela É, Nelson Rodrigues; 12. As Meninas, Lygia Fagundes Telles; 13. As Metamorfoses, Murilo Mendes, Avalovara, Osman Lins; Bagagem, Adélia Prado; Baú de Ossos, Pedro Nava; Brás, Bexiga e Barra Funda, Antônio de Alcântara Machado; Broquéis, Cruz e Sousa; Canaã, Graça Aranha; Cartas Chilenas, Tomás Antônio Gonzaga; O Cortiço, Aluísio Azevedo; Catatau, Paulo Leminski; Claro Enigma, Carlos Drummond de Andrade; Contos Gauchescos, João Simões Lopes Neto; Crônica da Casa Assassinada, Lúcio Cardoso; Dom Casmurro, Machado de Assis; Espumas Flutuantes, Castro Alves; Estrela da Manhã, Manuel Bandeira; Eu, Augusto dos Anjos; Febeapá, Stanislaw Ponte Preta; Fogo Morto, José Lins do Rego; Gabriela, Cravo e Canela, Jorge Amado; Galáxias, Haroldo de Campos; Galvez, Imperador do Acre, Márcio Souza; Grande Serão: Veredas, Guimarães Rosa; Harmada, João Gilberto Noll; O Homem e sua Hora, Mário Faustino; I-Juca Pirama, Gonçalves Dias; Inocência, Visconde de Taunay; Invenção de Orfeu, Jorge de Lima; Juca Mulato, Menotti del Picchia; Laços de Família, Clarice Lispector; Lavoura Arcaica, Raduan Nassar; Libertinagem, Manuel Bandeira; Lira dos Vinte Anos, Álvares de Azevedo; Lucíola, José de Alencar; Macunaíma, Mário de Andrade; Malagueta, Perus e Bacanaço, João Antônio; Mar Absoluto, Cecília Meireles; Marília de Dirceu, Tomás Antônio Gonzaga; Memórias de um Sargento de Milícias, Manuel Antônio de Almeida; Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis; Memórias Sentimentais de João Miramar, Oswald de Andrade; Morangos Mofados, Caio Fernando Abreu; Morte e Vida Severina, João Cabral de Meio Neto; Navalha na Carne, Plínio Marcos; Noite na Taverna, Álvares de Azevedo; Nova Antologia Poética, Mário Quintana; Nova Antologia Poética, Vinicius de Moraes; O Analista de Bagé, Luis Fernando Veríssimo; O Ateneu, Raul Pompéia; O Braço Direito, Otto Lara Resende; O Coronel e o Lobisomem, José Cândido de Carvalho; O Encontro Marcado, Fernando Sabino; O Ex-Mágico, Murilo Rubião; O Guarani, José de Alencar; O Pagador de Promessas, Dias Gomes; O Que é Isso, Companheiro, Fernando Gabeira; O Quinze, Rachel de Queiroz; O Tempo e o Vento, Érico Veríssimo; O Tronco, Bernardo Elis: O Uraguai, Basílio da Gama; O Vampiro de Curitiba, Dalton Trevisan; Obra Poética, Gregório de Matos; Ópera dos Mortos, Autran Dourado; Os Cavalinhos de Platiplanto, José J. Veiga; Os Escravos, Castro Alves; Os Ratos, Dyonélio Machado; Os Sertões, Euclides da Cunha; Paulicéia Desvairada, Mário de Andrade; Poema Sujo, Ferreira Gullar; Poesias, Olavo Bilac; Quarup, Antonio Callado; Romance da Pedra do Reino, Ariano Suassuna; Romanceiro da Inconfidência, Cecília Meireles, Sagarana, Guimarães Rosa; São Bernardo, Graciliano Ramos; Seminário dos Ratos, Lygia Fagundes Telles; Serafim Ponte Grande, Oswald de Andrade; Sermões, Padre Vieira; Terras do Sem Fim, Jorge Amado; Tremor de Terra, Luiz Vilela; Triste Fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto; Um Copo de Cólera, Raduan Nassar; O Picapau Amarelo, Monteiro Lobato; Vestido de Noiva, Nelson Rodrigues; Vidas Secas, Graciliano Ramos; Viva o Povo Brasileiro, João Ubaldo Ribeiro; Viva Vaia, Augusto de Campos; Zero, Ignácio de Loyola Brandão.
3. Comentário
Como se pode observar, trata-se de uma lista bastante criteriosa. Percorre a literatura brasileira, desde o seu início, lá no Barroco, com Gregório de Matos; passa pelo Arcadismo com Tomás Antônio Gonzaga e Basílio da Gama; chega ao Romantismo, inclusive com o romance que inaugura esse estilo no Brasil, A Moreninha; segue pelo Realismo/Parnasianismo com Aluísio Azevedo e Olavo Bilac, além de outros; continua pelo Simbolismo com Cruz e Sousa; pela porta do Pré-Modernismo, com Canaã, Os Sertões, Juca Mulato, ingressa no Modernismo, inicialmente com as obras famosas da Semana de Arte Moderna e continua com inúmeros outros; finalmente, chega à atualidade, e aqui são inúmeros os poetas e escritores. Há autores de diferentes tendências e gêneros, inclusive humoristas, como Veríssimo, e de literatura infanto-juvenil, como Monteiro Lobato.
Assim, torna-se difícil não aceitar a lista como ela é. O que se pode fazer, e é isso que apresentarei a seguir, é um extrato dessa lista com aqueles autores de nossa preferência. Desse modo, aventuro-me a apresentar uma seleção segundo o meu gosto e com algum critério muito pessoal, como, por exemplo, o momento da leitura de determinada obra.
4. Um extrato da lista com as obras de minha preferência
Apenas, irei destacar 20 obras de que gosto. Não digo que goste mais das que selecionei, porque inclusive gosto de todas as que eu li. Inicialmente, pensei ressaltar somente 10 delas, mas não resisti a omitir tantas obras em lista tão restrita. Ficariam obras que me tocaram muito quando as li. Não quero com isso dizer que essas sejam melhores que outras, mas apenas que me vêem à lembrança sempre que penso em literatura brasileira. É lógico que muitas outras também me tocam a sensibilidade, mas, ou por não constarem da lista, ou por falta de espaço, fico com estas vinte.
4. Segue a minha lista com 20 obras
1. Bagagem, Adélia Prado; 2. Claro Enigma, Drummond; 3. Dom Casmurro, Machado de Assis; 4. Espumas Flutuantes, Castro Alves; 5. Estrela da Manhã, Manuel Bandeira; 6. I-Juca Pirama, Gonçalves Dias; 7. Juca Mulato, Menotti Del Picchia; 8. Lira dos Vinte Anos, Álvares de Azevedo; 9. Mar Absoluto, Cecília Meireles; 10. O Coronel e o Lobisomem, José Cândido de Carvalho; 11. O Quinze, Rachel de Queiroz; 12. O Uraguai, Basílio da Gama; 13. O Vampiro de Curitiba, Dalton Trevisan; 14. Obra Poética, Gregório de Matos; 15. Ópera dos Mortos, Autran Dourado; 16. Os Sertões, Euclides da Cunha; 17. Poesias, Olavo Bilac; 18. Sagarana, Guimarães Rosa; 19. São Bernardo, Graciliano Ramos; 20. Sermões, Padre Vieira.
5. Comentário à minha lista
Como disse, essa lista foi ditada pelo critério do meu próprio gosto e, portanto, trata-se de algo bastante subjetivo. É bom, porém, frisar que há uma “estética ou padrão do gosto”. O problema é que para isso se exige o denominado “bom gosto”, que nenhum teórico, até agora, foi capaz de definir ou estabelecer qual seja. Há, portanto, que confiar no nosso quantum de bom gosto. Para a estética medieval, era belo: “aquilo cuja apreensão agrada” (id cujus ipsa apprehensio placet). Harold Osborne, em Estética e Teoria da Arte, no capítulo Estética Inglesa do Século XVIII, ao tratar de O Padrão do Gosto, afirma: “Foi o conflito entre a crença num padrão universal de gosto e o reconhecimento de que o sentimento e a emoção são essenciais à apreciação estética que preparou o palco para o sistema lógico de Kant, a primeira filosofia sistemática dos problemas lógicos nela envolvidos” (p. 154).
Algumas observações sobre o motivo da escolha são necessárias:
1ª – Bagagem, uma obra poética que surpreendeu a nova literatura, ela e a sua autora, pela forma que retoma e reescreve determinados temas de poetas consagrados, como o próprio poema que dá título à obra;
2ª – Claro Enigma e seu autor se explicam por si sós, ambos consagrados pela crítica nacional e internacional;
3ª – De Machado poderia ser qualquer das duas, preferi, porém, Dom Casmurro pela criação do perfil de Capitu e pela eterna ambiguidade da obra;
4ª – O mesmo poderia se dizer de Castro Alves, tanto poderia constar com uma ou outra das obras listadas, mas Espumas Flutuantes se justifica pelo seu lirismo-amoroso e por ser menos discursiva de que Os Escravos;
5ª – Assim, pelo mesmo critério do puro lirismo, seguiria com Estrela da Manhã, de Bandeira;
6ª – I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, pelo que representa de um legítimo indianismo na literatura brasileira;
7ª – Juca Mulato, de Del Picchia, pela consagração do amor impossível de um simples subalterno por alguém de uma outra classe social e, inclusive, de outra raça;
8ª – Lira dos Vinte Anos é a representante legítima do byronismo no Romantismo brasileiro;
9ª – Mar Absoluto e Cecília não poderiam estar ausentes. É o nosso lirismo ao estilo de Portugal;
10ª – O Coronel e o Lobisomem, um livro hoje esquecido, espécie de romance picaresco, é marco de um tipo de estilo, jocoso e irônico na nova narrativa brasileira;
11ª – O Quinze, obra de estréia da grande Rachel de Queiroz, um dos romances inaugurados e talvez o melhor Regionalismo do Nordeste dos anos 30;
12ª – O Uraguai representa o espírito árcade nesta lista. Poderia ser também Marília de Dirceu, mas ficaria faltando um representante do épico;
13ª – Dalton, com O Vampiro de Curitiba ou com outra obra, não pode ficar fora de qualquer lista da literatura brasileira;
14ª – Gregório de Matos e sua Obra Poética também não podem ficar fora, pelo lirismo barroco do poeta baiano;
15ª – Ópera dos Mortos, como O coronel e o Lobisomem, é obra renovadora da narrativa brasileira;
16ª – Os Sertões representa aqui o Pré-Modernismo, um painel grandioso de uma terra inóspita e guerreira;
17ª – A poesia parnasiana não poderia ficar de fora e assim comparece com a Obra Poética, do visionário, mas engajado Bilac;
18ª – Por que Sagarana e não Grande Sertão: Veredas? Talvez por ser um grande livro mesmo com histórias curtas;
19ª – São Bernardo, para mim, é superior ao elogiadíssimo Vidas Secas, duas grandes obras de um grande prosador;
20ª – Os Sermões e o Padre Vieira serão eternos tanto na literatura brasileira como na portuguesa.
Dez ausências notáveis de autores também notáveis:
a) Andrade, Mario e Oswald, dois vultos da Semana de Arte, lídimos representantes do início do Modernismo brasileiro, acabaram cedendo espaço a outros autores dessa época, como Bandeira e Del Picchia;
b) Clarice Lispector: a obra de minha preferência é outra, Perto do Coração Selvagem, e não a listada;
c) Cruz e Sousa: preferir Os Últimos Sonetos não justifica a ausência do grande simbolista. Faltou espaço;
d) João Cabral de Melo Neto: prefiro a obra poética propriamente dita e não a mista poesia/teatro;
e) João Ubaldo Ribeiro: com certeza foi a ausência na lista principal do picaresco Sargento Getúlio, muito próxima de O Coronel e o Lobisomem;
f) Jorge Amado: grande contador de histórias, idolatrado em Portugal, ficou sem o seulugar nesta lista;

g) José de Alencar: no indianismo prefiro Iracema a O Guarani; e no romance social, Senhora a Lucíola;
h) Luiz Vilela: de longe que No Bar é superior a Tremor de Terra, a obra listada;
i) Lima Barreto: grande escritor, famoso por grandes obras, como Triste Fim de Policarpo Quaresma, O Homem que Sabia Javanês, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, e outros. Faltou espaço;
j) Veríssimo, pai e filho: é pena que nenhum participe da minha lista, nem o grande romancista regionalista do Sul, nem o filho, criador de um tipo de humor inteligente, sutil.
Para concluir, sei da limitação de qualquer lista, como já afirmei e reafirmei, mas sei que fiquei devendo. E muito!

Para reparar tanta injustiça, deixo aqui a simples transcrição de um texto de Veríssimo, e que o dedico aos leitores, em especial às leitoras:
MULHERES
Certo dia parei para observar as mulheres e só pude concluir uma coisa: elas não são humanas. São espiãs. Espiãs de Deus, disfarçadas entre nós. Pare para refletir sobre o sexto-sentido.

Alguém duvida de que ele exista?
E como explicar que ela saiba exatamente qual mulher, entre as presentes, em uma reunião, seja aquela que dá em cima de você?
E quando ela antecipa que alguém tem algo contra você, que alguém está ficando doente ou que você quer terminar o relacionamento?
E quando ela diz que vai fazer frio e manda você levar um casaco? Rio de Janeiro, 40 graus, você vai pegar um avião pra São Paulo. Só meia-hora de vôo. Ela fala pra você levar um casaco, porque "vai fazer frio". Você não leva. O que acontece?
O avião fica preso no tráfego, em terra, por quase duas horas, depois que você já entrou, antes de decolar. O ar condicionado chega a pingar gelo de tanto frio que faz lá dentro!
"Leve um sapato extra na mala, querido. Vai que você pisa numa poça...
"Se você não levar o "sapato extra", meu amigo, leve dinheiro extra para comprar outro. Pois o seu estará, sem dúvida, molhado... O sexto-sentido não faz sentido!
É a comunicação direta com Deus!
Assim é muito fácil... As mulheres são mães!
E preparam, literalmente, gente dentro de si. Será que Deus confiaria tamanha responsabilidade a um reles mortal?
E não satisfeitas em ensinar a vida elas insistem em ensinar a vivê-la, de forma íntegra, oferecendo amor incondicional e disponibilidade integral. Fala-se em "praga de mãe", "amor de mãe", "coração de mãe"...
Tudo isso é meio mágico...
Talvez Ele tenha instalado o dispositivo ‘coração de mãe’ nos "anjos da guarda" de Seus filhos (que, aliás, foram criados à Sua imagem e semelhança).
As mulheres choram. Ou vazam? Ou extravazam?
Homens também choram, mas é um choro diferente. As lágrimas das mulheres têm um não sei quê que não quer chorar, um não sei quê de fragilidade, um não sei quê de amor, um não sei quê de tempero divino, que tem um efeito devastador sobre os homens... É choro feminino. É choro de mulher... Já viram como as mulheres conversam com os olhos?
Elas conseguem pedir uma à outra para mudar de assunto com apenas um olhar.
Elas fazem um comentário sarcástico com outro olhar.
E apontam uma terceira pessoa com outro olhar.
Quantos tipos de olhar existem?
Elas conhecem todos... Parece que freqüentam escolas diferentes das que freqüentam os homens! E é com um desses milhões de olhares que elas enfeitiçam os homens.
EN-FEI-TI-ÇAM!
E tem mais! No tocante às profissões, por que se concentram nas áreas de Humanas?
Para estudar os homens, é claro!
Embora algumas disfarcem e estudem Exatas... Nem mesmo Freud se arriscou a adentrar nessa seara. Ele, que estudou, como poucos, o comportamento humano, disse que a mulher era "um continente obscuro".
Quer evidência maior do que essa?
Qualquer um que ama se aproxima de Deus. E com as mulheres também é assim. O amor as leva para perto dEle, já que Ele é o próprio amor. Por isso dizem “estar nas nuvens”, quando apaixonadas. É sabido que as mulheres confundem sexo e amor. E isso seria uma falha, se não obrigasse os homens a uma atitude mais sensível e respeitosa com a própria vida.
Pena que eles nunca verão as mulheres-anjos que têm ao lado.
Com todo esse amor de mãe, esposa e amiga, elas ainda são mulheres a maior parte do tempo.
Mas elas são anjos depois do sexo-amor.
É nessa hora que elas se sentem o próprio amor encarnado e voltam a ser anjos.
E levitam.
Algumas até voam.
Mas os homens não sabem disso.
E nem poderiam.
Porque são tomados por um encantamento que os faz dormir nessa hora.