Um lenço de despedida!
São felizes: têm pena...
Eu sofro sem pena a vida.
E a dor é já de pensar,
Órfão de um sonho suspenso
Pela maré a vazar...
De improfícuas agonias,
No cais de onde nunca parto,
A maresia dos dias.
(Poema Marinha. PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1969, p. 147.)
Castro não tem mar. Castro não tem porto, aliás, tem, mas é portinho onde não atracam navios, atracam pequenas canoas de algum pescador descuidado. O lugar que se chama Porto fica na margem direita do rio. Mas aquele espaço era como um refúgio para algum esporte. Houve época que ali as jovens de Castro tentavam jogar vôlei. Quando elas lá não estavam, éramos nós, os meninos, que ali íamos jogar o que deveria ser uma espécie de futebol.
Portanto, ali, no Porto, não havia despedida com lenço
branco acenando. Mas havia a velha estação da estrada de ferro. Era ali que se
aguardava o velho trem na espera de chegar com ele alguma ilusão. Era ali que
havia despedidas, algumas pungentes, de cortar o coração, mas não se acenavam
lenços brancos.
O velho trem vinha de longe, de São Paulo, chegava
cansado. Resfolegava. Depois de passar por Jaguariaíva e de uma breve parada em
Piraí do Sul, os trilhos margeavam o tortuoso Iapó. E o trem acompanhava. Já
nas fraldas da cidade de Castro, o velho trem apitava. Primeiro cruzava uma
pequena estrada de terra, depois apitava novamente para cruzar uma rua e entrar
na ponte de grande estrutura metálica. Estava cruzando o Iapó. Margeava a
várzea por uma reta e um chão plano, antes de fazer acentuada curva à esquerda,
para novamente apitar. Antes de dobrar ligeiramente à direita e cruzar outra
rua, esta já bem mais movimentada, o trem afinal apitava contente, estava
ingressando no quadro da estação. As agulhas afastavam ou uniam trilhos, para
que ele pudesse, finalmente, encostar na plataforma.
Aguardavam-se pessoas. Umas vinham, outras não. O trem
como sedento necessitava de água para suas caldeiras. O carvão já estava sendo
colocado nas fornalhas. Para a água, do alto da caixa d’água, lá estava o velho
Gustavo. Ele era o dono daquele espaço. Ali, só ele, mais ninguém. As longas
mangueiras de pano desciam até a máquina e ali depositava a água que iria
refrescar, mas também movimentar o pesado trem. E ele partia, apitando.
Seguiria em direção de novos destinos: Curitiba, Rio Grande do Sul. Dependia...
O fato é que deixava um vazio na velha estação. Castro voltaria a dormir o sono
de cidade pequena e abandonada.