segunda-feira, 27 de outubro de 2008

FEDERICO GARCÍA LORCA - 3 POEMAS TRADUZIDOS

DESEO

Sólo tu corazón caliente,

Y nada más.

Mi paraíso, un campo
Sin ruiseñor
Ni liras,
Con un río discreto
Y una fuentecilla.

Sin la espuela del viento
Sobre la fronda,
Ni la estrella que quiere
Ser hoja.

Una enorme luz
Que fuera
Luciérnaga
De otra,
En un campo de
Miradas rotas.

Un reposo claro
Y allí nuestros besos,
Lunares sonoros
Del eco,
Se abrirían muy lejos.

Y tu corazón caliente,
Nada más.

DESEJO

Só, só, o teu coração ardente
E nada mais.


Meu paraíso, um campo
Sem beija-flor
Nem liras,
Com um rio discreto
E uma fontezinha.

Sem a espora do vento
Sobre a face
Nem a estrela que quer
Ser folha.


Uma enorme luz
Que foi
Vaga-lume
De outra,
Em um campo de
Olhadas rotas.


Um repouso claro
De beijos passados
Enfeites sonoros
Do eco
Abrem-se afastados


E o teu coração ardente
E nada mais.

BAILE

La Carmen está bailando

por las calles de Sevilla.
Tiene blancos los cabellos
y brillantes las pupilas.

¡Niñas,
corred las cortinas!

En su cabeza se enrosca
una serpiente amarilla,
y va soñando en el baile
con galanes de otros días.

¡Niñas,
corred las cortinas!

Las calles están desiertas
y en los fondos se adivinan,
corazones andaluces
buscando viejas espinas.

¡Niñas,
corred las cortinas!

BAILE

A Carmen está dançando
Pelas ruas de Sevilla.
Tem brancos os seus cabelos
E brilhantes as pupilas.

Meninas
Correi as cortinas!

Em sua cabeça enrosca
Uma serpente amarela,
E vai sonhando no baile
Com galãs de outras eras.

Meninas
Correi as cortinas!

As ruas estão desertas
E nos fundos se descobre
Corações andaluzes
Buscando dores enormes

Meninas
Correi as cortinas!

CANCIÓN DE JINETE

Córdoba.
Lejana e sola.

Jaca negra, luna grande,
y aceitunas en mi alforja.
Aunque sepa los caminos
yo nunca llegaré a Córdoba

Por el llano, por el viento,
jaca negra, luna roja,
la muerte me está mirando
desde las torres de Córdoba.

¡ Ay qué camino tan largo !
¡ Ay mi jaca valerosa!
¡ Ay que la muerte me espera!
antes de llegar a Córdoba!

Córdoba.
Lejana y sola.

CANÇÃO DO GINETE

Córdoba.
Longínqua e só.

Mula negra
E azeitonas em meu alforge
Ainda que eu saiba os caminhos
Eu nunca chegarei a Córdoba.

Pelo plano, pelo vento,
Mula negra, lua rosa.
A morte me está olhando
Desde as torres de Córdoba.

Ai que caminho tão longo!
Ai minha mula valorosa!
Ai, que a morte me espera
Antes de chegar a Córdoba!

Córdoba.
Longínqua e só.



domingo, 26 de outubro de 2008

CATULO - 3 POEMAS TRADUZIDOS

CATULO, poeta latino nascido em Verona no ano 87 a. C. deixou 116 poemas líricos, principalmente aqueles consagrados ao amor de sua musa Lésbia.
Seguem três poemas que traduzi:

CARME 3

Lugete, o Veneres Cupidinesque,

et quantum est hominum venustiorum:
passer mortuus est meae puellae,
passer deliciae meae puellae,
quem plus illa oculis suis amabat.
Nam mellitus erat, suamque norat.
Ipsam tam bene quam puella matrem:
nec sese a gremio illius movebat,
sed circumsiliens modo huc modo illuc,
ad solam dominam usque pipiabat.
Qui nunc it per iter tenebricosum
illuc, unde negant redire quemquam.
At vobis male sit malae tenebrae
Orci quae omnia bella devoratis:
tam bellum mihi passerem abstulistis!
O factum male! o miselle passer!

tua nunc opera meae puellae
flendo turgiduli rubent ocelli.

POEMA 3


Vertei lágrimas, Vênus e Cupido,
E mais aqueles homens que na vida
Por haverem amado têm sofrido:
Pois morreu o pardal da minha amada.
O pardal que, por ela protegido,
Era a delícia mais cara e que sempre,
Fora mais do que seus olhos querido.
Cantava docemente, e a minha amada
O conhecia tão bem, como a filha
Conhece a sua própria mãe querida.
Ele do colo dela não saía,
Pois minha amada a ele protegera.
E ele que, alegre, sempre ao lado dela,
Só a ela cantando agradecia.
Agora, ele morreu. Ó que tristeza!
Foi por esse caminho tenebroso
Do qual nunca jamais alguém voltou.
Malditas sois vós, ó escuras trevas,
Hades, que a tudo tendes devorado,
Aquelas coisas todas e tão belas.
Belo, também, era o pardal amado!
Por você, ó pardal, que agora morto,
Seus inchados olhinhos têm chorado!


CARME 5

Vivamus, mea Lesbia, atque amemus,
Rumoresque senum severiorum
Omnes occidere aestimemus assis.
Soles occidere et redire possunt:
nobis cum semel occidit brevis lux,
nox est perpetua una dormienda.
da mi basia mille, deinde centum,
dein mille altera, dein secunda centum,
deinde usque altera mille, deinde centum.
dein, cum milia multa fecerimus,
conturbabimus illa, ne sciamus,
aut ne quis malus invidere possit,
cum tantum sciat esse basiorum.

POEMA 5

Vivamos, minha Lésbia, e nos amemos.
E aos conselhos dos velhos mais severos
Nem ouvidos a eles nós daremos.
Porque o sol todo dia nasce e morre:
E a nossa luz brevíssima será,
Pois nós apenas uma vez morremos.
Portanto, dá-me mil e mais mil beijos,
Depois, dar-me-hás cem e mais cem mil.
Pois, quantos beijos mais viermos a dar,
Perderemos a conta dos desejos.
Todos, assim, iremos confundir,
Para que ninguém nos possa invejar,
De quantos foram nossos longos beijos.

CARME 8

Miser Catulle desinas ineptire
et quod vides perisse perditum ducas
fulsere quondam candidi tibi soles
cum ventitabas quo puella ducebat
amata nobis quantum amabitur nulla
ibi illa multa cum iocosa fiebant
quae tu volebas nec puella nolebat
fulsere vere candidi tibi soles
nunc iam illa non vult tu quoque impotens noli
nec quae fugit sectare nec miser vive
sed obstinata mente perfer obdura
vale puella iam Catullus obdurat
nec te requiret nec rogabit invitam
at tu dolebis cum rogaberis nulla
scelesta vae te quae tibi manet vita
quis nunc te adibit cui videberis bella
quem nunc amabis cuius esse diceris
quem basiabis cui labella mordebis
at tu Catulle destinatus obdura

POEMA 8

Pobre Catulo, deixe essa loucura
E o sofrimento teu todo de lado.
Considera perdido o que hoje está.
Por que antes o teu tempo não perdera
À procura de um corpo desejado.
Ela por teu amor a mais amada,
Somente desejava o que pedias
E se alegrava com o teu desejo.
Então, teus dias eram bem felizes!
Agora ela te esquece. Ó mulher!
Esquece-a, pois, também. Não te merece,
Se ela assim abandona quem a quer!
Dá-lhe também adeus, e essa mulher
Seja de ti a mais bem esquecida.
E que sempre infeliz, e sem amor,
Leve a vida que é dela merecida.
Não mais a procurar, não mais querê-la.
Ela então chorará, abandonada
Sem ninguém que a deseje em sua vida.
A quem irá amar? Ninguém a quer.
Agora sem alguém para enganar,
(A Catulo tentara algumas vezes),
A que boca e a quem irás beijar?
E que lábios molhados morderás?
Mas tu, Catulo, firme ficarás.



quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A CONTRIBUIÇÃO FEMININA BRASILEIRA EM TÁVOLA REDONDA

Recentemente, postei texto sobre a contribuição feminina em Távola Redonda. No texto, ative-me a poetisas portuguesas. Em comentário dos leitores, fui perguntado sobre que poemas de Cecília Meireles haviam sido publicados na Revista. É que, ao fazer menção aos colaboradores, fiz referência a que poetas e poetisas do Brasil haviam também publicado em Távola Redonda.
Hoje, para complementar o texto sobre a contribuição feminina, escreverei sobre as duas poetisas do Brasil. Uma delas é a celebrada Cecília Meireles; a outra, a pouco conhecida Terezinha Éboli.
Cecília Meirelles, embora considerada por alguns críticos portugueses como uma poetisa mais portuguesa do que brasileira, foi publicada somente no Fascículo 12 da Revista, em março de 1952. Terezinha Éboli, também bastante prestigiada em Portugal, principalmente na revista Távola Redonda, apareceu com bastante freqüência e teve, além de poemas, uma nota breve sobre sua trajetória como poetisa. Publicou poemas em três Fascículos: 9, 10 e 12.
Sobre Cecília Meireles, o grande historiador, crítico e teórico português da literatura, Hernâni Cidade, com várias obras e ensaios sobre autores portugueses e brasileiros, afirma no mesmo Fascículo 12: “No concerto de Poetas brasileiros, seus contemporâneos a voz de Cecília Meireles é uma voz solitária. Em Portugal, sempre a sua obra obteve uma maior audiência não porque ela seja mais portuguesa que brasileira, como insinuaram alguns críticos...”. E continua o crítico a explicar o motivo de sua maior audiência e maior reconhecimento em Portugal do que no Brasil: “A extraordinária categoria poética de Cecília Meireles foi mais cedo reconhecida entre nós, principal­mente porque uma geração literária - a geração da Presença - havia criado, em Portugal, um ambiente propício à aceitação de mensagens líricas como a sua...”.

De Cecília Meireles os poemas publicados em Távola Redonda foram quatro:

IMPROVISO

Já não tenho lágrimas.
Estão caídas
longe, em vagas margens
qual mornas ovelhas
recém-nascidas.

Longe estão caídas,
entre esses montes
de saudades vivas,
de figuras frias,
ai! De que horizontes...

Suspirosos montes!
Porém agora
Talvez não me encontrem.
A alma se me esconde
- nada mais chora.


SORTE

Como os passivos afogados
Esperando o tempo da areia,
Pelo mar de inúmeros lados
Veio tão venturosa e alheia
Que para mim a noite é o dia
Vê o mesmo sol sem ocaso,
E o que eu queria e não queria
Aceitaram seu justo prazo.

E nem me encontra, quem me espera,
Nem o que esperei foi havido,
Tanto me ausento desta esfera.

- Ó liberdade sem tormento!
ó fitas soltas, ó cortinas
levadas por um amplo vento
além de campos e colinas!
vencendo sucessivos planos,
abrindo mundos encobertos,
chegando aos reinos sobrehumanos
onde há jardins sobre os desertos!

A alma do sonho fez-se ouvido
tão vertiginoso e profundo
que aceita o recado perdido
dos ocultos donos do mundo.

14.ª CANÇÃO


Venturosa de sonhar-te,

à minha sombra me deito.
(Teu rosto, por toda parte,
mas, amor, só no meu peito!)

–Barqueiro, que céu tão leve!
Barqueiro, que mar parado!
Barqueiro, que enigma breve,
o sonho de ter amado!

Em barca de nuvem sigo:
e o que vou pagando ao vento
para levar-te comigo
é suspiro e pensamento.

–Barqueiro, que doce instante!
Barqueiro, que instante imenso,
não do amado nem do amante:
mas de amar o amor que penso!

15.ª CANÇÃO

Respiro teu nome.

Que brisa tão pura
súbito circula
meu coração.

Respiro teu nome.
Repentinamente,
de mim se desprende
a voz da canção.

Respiro teu nome.
Que nome? Procuro...
- Ah teu nome é tudo.
E é tudo ilusão.

Respiro teu nome.
Sorte. Vida. Tempo.
Meu contentamento
é límpido e vão.

Respiro teu nome.
Mas teu nome passa.
Alto é o sonho. Rasa,
minha breve mão.

Com referência a Terezinha Éboli, Távola Redonda, a Revista publica uma nota em que apresenta a poetisa: “Terezinha Éboli pertenceu ao grupo de Orfeu – a revista que, em 1942, veio impor uma nova geração e uma nova estética”. Informa também a nota que desse grupo saíram os poetas Pedro Ivo, Fernando Ferreira de Loanda, Afonso Félix de Sousa e Fred Pinheiro. Na época em que saiu o Fascículo 9, a poetisa pertencia à direção da revista Cronos. O poema MOTIVO INFANTIL BRASILEIRO, editado no Fascículo 12, vem com a indicação de que pertence ao livro Andante Tranqüilo.
De Terezinha Éboli, Távola Redonda publicou seis poemas, que são:

TE J O
Ao Tejo cheguei
ouvindo coisas de acalentar.
Era cedo ainda.

Mulheres de cesto bravos...
- Quanto vale teu peixe, rapariga!
- Não mais que a vida, senhora,
um sorriso vale mais.

Mulheres de cestos bravos
de ciranda a cirandar
só de filhos já vão dez
e uma varina miúda
que fome não há-de passar.

Era cedo ainda.
e o Tejo a me contar...

PESCA PARTIDA

De que noite vieram
teus olhos em concha
pejados de mar?

De que cenas frias
de vagas quebrando
a fímbria dos olhos
a sublinhar caminhos?

Oh! Belos que se vão
outros que se quedam
feridos na areia
nem gestos têm
que os regressem ao mar!

NEGRINHOS DE S. VICENTE

Vêm vindo os negrinhos de S. Vicente
Remando pra cá
De mãos estendidas vendendo colar.

E os que ficam de longe
Calçados de pedras pontudas
Estão paralisados de mãos estendidas no ar.

Esperam moedas
e estão fixados
nos dias de Portugal.

S. Vicente do Cabo Verde é santo?
Que contas nos dás das olheiras profundas
que assim mesmo sobre o negro se vê
nos negrinhos de tua ilha?

CICLO DELIRANTE

Dormir nas escarpas das montanhas
- ao mesmo tempo terra e sonho - ,

Rolar pelas esferas do tempo
antes de ser sonolenta
e voltar, um século, ou dois,
na condição de um peixe-poema.

Dos lábios dos meninos coloridos
Fazer dois olhos.
Das mãos fiandeiras
barbatanas caladas.
Peixe que dança
peixe que pensa do mundo
um segredo profundo.

Eleito guardião das conchas vazias
rápido deslisar
para enchê-las de corpos brancos e negros
dos suicídios deste século.

(A terra não dá mais)

E quando estiver cansado
dos movimentos iguais
desprender-se das ondas
e voltar, talvez muito mais tarde
como um pássaro molhado.

HERANÇA

Mais que a coragem do mar
ficou em mim:
folhas caídas
em ermos jardins
e a fuga dos remos
no dorso de um rio.

(Cabelos brancos são de agora)

De tanto mar sou feita! Tenho tanto sa1 nas veias
e sargaços em minhas mãos
que já não sei se sou eu
ou se é alguém do outro lado.

O que ficou do ser humano
muito pouco, quase nada...
Por isso agora
sou muito mais solidão.

MOTIVO INFANTIL BRASILEIRO

A chuva toda por sobre a serra
é um corpo mole, branco e sereno.
e a faixa loura da longa estrada .
é um grito vivo que diz, gritando:

“Menino tonto, de pés no chão,
que vendes frutas aos trens que passam,
vai para casa, Luís, José, Pedro e João!”

Adiante, gritando mais:
“Saia do rio, menina nua,
A chuva é forte, a água é fria!”

E ao moleque, todo pretinho,

Rindo e bebendo água do céu:
“Olha as palmadas! E as tuas frutas, se apanhas febre?”

E a chuva sempre por sobre a serra...
(- Aqui, moça, banana ouro...)
Vai despencando
E vai banhando a estrada longa que vai calando:
“vai para casa menino tonto...”

- Quê que adianta, moça?
A chuva chove também lá dentro...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A CONTRIBUIÇÃO FEMININA PARA A POESIA DE TÁVOLA REDONDA

A Revista Távola Redonda, publicada em Lisboa, de 1950 a 1954, incluiu um número grande de poetas. Aproximadamente oitenta colaboradores passaram pelos vinte Fascículos editados. É marcante também o número de colaboradoras. Foram doze poetisas que, em conjunto, deram mais de cinqüenta contribuições poéticas e algumas delas com artigos críticos também.
Para citar as mais influentes na Revista, selecionamos três, as que aparecem com maior freqüência nas páginas de Távola Redonda. O nome da colaboradora vem seguido dos números da Revista em que elas contribuíram: 1. Fernanda Botelho (1, 2, 4, 6, 7, 8, 10, 12, 14, 19 e 20); 2. Maria Manuela Couto Viana (2, 6, 7, 12, 19 e 20); e 3. Terezinha Éboli (9, 10 e 12), poetisa brasileira.
Outra característica importante de Távola Redonda foi abrigar poetas e poetisas de inúmeros outros países da Europa e da América. Do Brasil, participaram Cecília Meireles, Manuel Bandeira e Jorge de Lima, além da poetisa Terezinha Éboli. Apareceram poetas de língua latina, Catulo; inglesa, Elliot e Ezra Pound; francesa; italiana e outras.

FERNANDA BOTELHO
A poetisa que mais colaborou em Távola Redonda, em número e qualidade, foi, sem dúvida, Fernanda Botelho. Participou, inclusive, do primeiro grupo, aquele que idealizou e fundou a Revista e que incluía David Mourão-Ferreira, António Manuel do Couto Viana e Luiz de Macedo.
Fernanda Botelho nasceu de família de literatos. É sobrinha-neta do romancista naturalista Abel Botelho e aparentada do prosador do Romantismo, Camilo Castelo Branco. Iniciou seus estudos de Filologia Clássica na Universidade de Coimbra curso que concluiu na Universidade de Lisboa.
Ela é a poetisa que no grupo de Távola Re­donda pode ser classificada de original. A originalidade da sua poesia resulta de um conjunto de fatores que incluem aspectos de construção aliados a uma temática que amiúde surpreende o leitor. O geometrismo de suas imagens (As Coordenadas Líricas, fasc. 10, p. 1; Habitat, fasc. 1, p. 6); o reaproveitamento de formas tradicionais (Cantar de amigo, fasc. 1, p. 6), a ironia com que versa assuntos do quotidiano (Matrimónio, fasc. 1, p. 6); a expressão lírica do amor impossível (Al­tura; fasc. 1, p. 6) são elementos que tomam a sua poesia revitalizada. Destas características, a mais notada e referida pela crítica foi o geometrismo. A ela assim se refere David Mourão-Ferreira: "Em Femanda Botelho, tudo se converte em linhas, figuras, sombras e volumes, num desejo inconseiente de geometrização..." Sobre a ironia, o mesmo crítico e colega de revista afirma: "A sua poesia encerra uma grande ironia". Mais tarde a própria poetisa se manifesta sobre a ironia: em entrevista dada ao jornal português Público, de 16 de agosto de 2003, afirma: “Nem na morte vou perder a ironia”.
Fernanda Botelho, depois da fase poética de Távola Redonda, passou-se para o romance. O conjunto de sua obra registra o primeiro livro, que foi de poesia, exatamente na éppoca de Távola Redonda: Coordenadas Líricas (1951).Depois vieram os romances: O Enigma das Sete Alíneas (1956), O Ângulo Raso (1957), A Gata e a Fábula (1960), Xerazade e os Outros (1964), Lourenço é nome de Jogral (1971), Esta Noite Sonhei com Brueghel (1987), para citar os mais reconhecidos pela crítica. A última obra que se registra é As Contadoras de Histórias (1998). Eu, particularmente, considero as três grandes obras de Fernanda Botelho, no romance, A Gata e a Fábula (1960), Xerazade e os Outros (1964) e Esta Noite Sonhei com Brueghel (1987).
A poetisa e escritora nascida no Porto, faleceu em 11 de dezembro de 2007. O Blog Nothingandall assim noticiou: "Morreu hoje a escritora e poetisa portuguesa e portuense Fernanda Botelho" e afirma: "Lembrar os poetas (com os poemas que fizeram e marcaram e marcam as nossas vidas) nas datas que marcaram as vidas deles". Essa afirmação coincide com a António Manuel Couto Viana, um dos colegas da escritora na redação de Távola Redonda: - "A homenagem a um Poeta que morreu / É decorar-lhe os versos".
Para homenageá-la e para ilustrar a sua poesia, aquela publicada em Távola Redonda, seguem três poemas:

AS COORDENADA LÍRICAS

Desviou-se o paralelo um quase nada
e tudo escureceu:
era luz disfarçada em madrugada
a luz que me envolveu

A geométrica forma de meus passos
procura um mar redondo.
Levo comigo, dentro dos meus braços,
oculto, todo o mundo.

Sozinha já não vou. Apenas fujo
às negras emboscadas.
Em cada esfera desenho o meu refúgio
— as minhas coordenadas.

MOTIVO

Jardineira rosada no sol quente
(esperança renovada em cada ano),
o lenço encarnado e o dom profano
de vigorar o esforço da semente.

Curvada como um lírio em tarde amena,
árvore criadora e aquecida,
ela aí está, solene, dando vida
às batatas, às flores e ao meu poema.

CANTAR DE AMIGO

Bailada, bailia
que eu jás sei bailar.
E agora só queria
aprender a amar.

Ao entrar na roda,
soltou-se-me a liga.
E agora há quem diga
que não foi na roda.

Bailada, bailia
que eu já sei bailar.
E agora só queria,
mas não posso, amar.


CONCLUSÃO
Távola Redonda filiou-se à poesia lírica portuguesa tradicional. Assim, preferiu uma atitude de não-participação ativa no momento histórico, a não ser por uma espécie de ceticismo, que foi característica de grande parte da poesia da década de cinqüenta. Esse sentimento em relação aos destinos políticos do mundo, e em especial de Portugal, aliado a um ideário de índole subjetiva, levou a revista a uma retomada do lirismo.
A posição que Revista assumiu de um aparente não-compromisso com o social levou a sua produção a se voltar para um neo-esteticismo, a ponto de fazer da temá­tica da própria poesia uma de suas preocupações fundamentais. Como decorrência dessa retomada do lirismo e da preocupação estética, Távola Redonda fez renascer em Portugal a atmosfera poética, ausente em grande parte da poesia da década anterior.


quarta-feira, 15 de outubro de 2008

HOMENAGEM A MEUS PROFESSORES

HOMENAGEM A MEUS PROFESSORES

Neste 15 de outubro de 2008, Dia do Professor, se alguém lembrou de mim, e houve quem lembrasse, eu não poderia deixar de lembrar-me daqueles que foram meus mestres. De fato, muitos passaram pela minha memória, Professor Mansur Guérios, da graduação de Letras, o Professor Eurico Back, do Mestrado, o Professor MASSAUD Moisés, do doutorado e muitos mais. Irei, porém, homenagear três deles, em nome de todos.

1. PROFESSOR SALVADOR ALVES SOBRINHO
O primeiro professor foi meu mestre-escola. Ensinava até onde sabia, mas era o suficiente para encaminhar aquela meninada do pequeno lugarejo perdido no interior do município de Castro. A escola era o meio social que eu freqüentava. O velho professor me apoiava em tudo, inclusive mais tarde passei a ajudar-lhe em algumas tarefas com os mais iniciantes, porque iniciantes éramos todos. As brincadeiras antes de o professor chegar no seu manso cavalo era uma festa.
As lições de língua portuguesa consistiam nas primeiras letras, leitura soletrada, cópia das letras em caderno de caligrafia. Em aritmética se faziam as quatro operações na pequena lousa que cada um levava consigo a tiracolo. A aprendizagem da tabuada era decorada, meio declamada, meio cantada. Geografia e história eram motivo para se decorar algum assunto trazido de cadernos de professores mais especializados de escolas de bairros vizinhos ou de algum livro que aparecia por lá.
Dia de grande preocupação era quando ia, geralmente ao final do ano, uma comissão da prefeitura municipal, para repassar os pontos e verificar como andava a aprendizagem naquela escola. Foi a primeira experiência de avaliação de curso e de avaliação institucional que vi e que experimentei. Saí-me bem, cheguei a ser recomendado para ir fazer o curso ginasial na cidade.
Com todo o primitivismo dos tempos, dos processos e das metodologias, confesso que aprendi muito nessa escola. Aprendia-se com o amor. O amor era ao estudo, à escola, ao professor. Era a escola e sua circunstância.

2. PROFESSOR BERNARDO LETZINGER
Bernardo Letzinger era o diretor do Colégio Diocesano de Santa Cruz, em Castro. Como descendente de alemães, mantinha seu estilo germânico, uma espécie de Aristarco de O Ateneu. No curso ginasial e no científico, ele foi meu professor de Matemática. Ao final do ano de 1953 terminou o curso ginasial terminou para mim.
O curso científico iniciou-se com um pouco de atraso. Como fiquei indeciso sobre que carreira seguir após o ginásio, pensei em me dedicar no que estaria mais a minha mão, que seria ser um funcionário de alguma loja comercial. Assim, matriculei-me em uma escola de comércio, que funcionava na praça da Igreja Matriz. Assisti a algumas aulas durante mais ou menos uma semana, quando fui avisado por alguém que deveria comparecer ao Colégio Diocesano de Santa Cruz, a pedido da direção.
Quando cheguei ao Colégio, fui recebido pelo diretor, professor Bernardo Letzinger, que, em tom severo, mas amigável, exigiu que eu deixasse o curso que iniciara e me matriculasse no científico. Assim fiz em obediência a um mestre que eu admirava e animado por suas palavras de incentivo. Segundo ele, eu deveria enfrentar as dificuldades e sonhar mais alto. Deveria procurar formar-me em Curitiba.
O científico não me proporcionava uma profissão. Teria de cursar uma faculdade, seguir para Curitiba. Que curso? Direito, que seria uma possibilidade, talvez influenciado por um dos professores? Engenharia, como queria meu querido diretor e professor Bernardo? Mas como seguir um desses cursos em uma universidade, longe, em Curitiba? Segui o curso de Letras.

3. PROFESSOR OSVALDO ARNS
Em 1957, ao ingressar no curso de Letras da Universidade do Paraná, entrei em contato com professores representantes notáveis da cultura paranaense. O curso selecionado fora o de Letras Clássicas e nele se estudava línguas: portuguesa, latina e grega.
Osvaldo Arns é um desses ilustres representantes do magistério, cativante pela sua maneira de dar aulas. Nós, alunos, ficávamos enlevados com as histórias fantásticas dos heróis da civilização grega retratados principalmente por autores como Homero, Hesíodo e Xenofonte, além dos líricos das odes, como Safo e Alceu. Foram três anos intensos de estudos da língua, da literatura e da cultura grega.
No quarto ano do curso, quando se cumpriam as disciplinas pedagógicas da licenciatura continuei o contato pedagógico com o Professor Arns. Fiz o estágio no Colégio Estadual acompanhando-o em suas aulas de Latim.
Além de um grande helenista, era também conhecedor profundo da língua, literatura e cultura latina. Falava fluentemente várias línguas, o alemão, o francês e o inglês.
A admiração que se iniciou na Universidade Federal do Paraná estendeu-se por outras épocas, em outras atividades da vida acadêmica e da vida social, quando Osvaldo Arns assumiu a reitoria da então Universidade Católica do Paraná - UCP. Como chefe do Departamento de Letras, tive a oportunidade de trabalhar a seu lado na organização do curso que eu dirigia.
Foi um homem profundamente culto, humanista, católico, grande mestre de várias gerações. Ensinou alunos, ensinou professores e foi exemplo para a sociedade. Sua memória como professor, reitor e cidadão permanece em nós que tivemos a felicidade de conhecê-lo e com ele conviver.

domingo, 5 de outubro de 2008

POETAS PARANANESES QUE EU CONHECI

Aqui se incluirão poetas paranaenses que conheci em Curitiba. São apresentados três. A poetisa Graciette Salmon é a primeira a aparecer. Depois virá o poeta Heitor Stockler de França. Finalizará a série o poeta Colombo de Souza.


1.GRACIETTE SALMON

Graciette Salmon, poetisa autenticamente paranaense, é nascida em Curitiba. Recebeu várias homenagens e, inclusive, é nome de rua da cidade. Infelizmente, longe de lugares freqüentados pelos literatos curitibanos, Graciette não recebeu a devida atenção e é pouco conhecida do público leitor.
Suas obras poéticas são em grande número e grandes em sua qualidade: O que ficou do sonho, 1947; Caminhos de ontem, 1953; A vida por dentro, 1956; À beira do tempo, 1958, uma separata de Um Século de Poesia, edição do Centro Paranaense Feminino de Cultura; Enquanto houver caminho, 1958, obra premiada pelo Centro de Letras do Paraná; Dona vida, 1964; Pássaro perdido, 1967; Estrela sozinha, 1969; Vitral Iluminado, 1971; Ciranda, 1982.
Escreveu ainda crônicas, que publicou sob o título Cantinho de poesia, 1964. É autora de Vão clamor, ensaio crítico sobre a poesia de outro poeta paranaense, Leôncio Correia.
Como autora, mereceu a atenção de alguns críticos que escreveram sobre elas obras como o ensaio:
Graciette Salmon: A Ciranda da Estrela Sozinha, de Adélia Maria Woellner, publicado pela Editora Torre de Papel, em 2003. Foi biografada por Eliane de A. Krueger na obra Graciette Salmon, que saiu em Curitiba em 1992 e é uma publicação da Secretaria de Estado da Cultura.
Eu tive a oportunidade e uma felicidade rara de conhecê-la. Foi ao início de 1957, quando cheguei a Curitiba. Como estudante de Letras, freqüentava uma Banca de Revistas, próxima à Praça Tiradentes, para ver as novidades literárias e principalmente para comprar o Jornal de Letras, à época muito procurado e lido. Foi em uma de suas páginas, provavelmente a manchete da capa, não estou lembrado, que fiquei sabendo do lançamento de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, que acabara de ser lançado ao final de 1956. Alguns intelectuais curitibanos freqüentavam esse espaço. Dentre eles, a poetisa Graciette Salmon. Certo dia, fui apresentado a ela pelo dono da Banca e ali começou uma amizade natural e muito interessante, porque havia encontrado alguém para falar de literatura e, muito especial, de poesia. Dela recebi, autografado, o livro Caminhos de Ontem, que lançara há pouco tempo. É uma obra que conservo com muito carinho.
Graciette Salmon, sempre em busca de um amor puro e ideal, escreveu poemas de intenso lirismo. A sua poesia demonstra certo fatalismo, como se retratasse um constante fracasso amoroso. Esse negativismo é uma das marcas da sua poesia.
Aqui se reproduz o início, versos do meio e, finalmente, os últimos versos do poema Carta a Papai Noel, do livro O que Ficou do Sonho:

CARTA A PAPAI NOEL

Papai Noel

Eu não fiquei zangada.
Fiquei triste
porque tu não me ouviste
ou compreendeste mal o meu pedido.
Talvez estivesses
demais atarefado
com os rogos e preces
que te fazia tanta gente,
e por isso, sem mesmo ter notado,
tu me deste um presente
a outra destinado.

°°°
Papai Noel:
não te condeno e não te recrimino.
°°°
Eu queria
- e isso o que pedi com muito ardor -
o ouro precioso e fino,
o ouro genuíno
de um grande e puro amor,
mas trouxeste um amor de fantasia,
um amor de latão,
que andou rolando,
passando
de um a outro coração.
Assim, portanto, o teu presente
aqui te mando em devolução.
Há-de querê-lo, certo, muita gente,
mas eu, Papai Noel velhinho e amigo,
- não te zangues comigo –

não quero nada de segunda mão.

Do livro Caminhos de Ontem, apresenta-se este poema em estilo meio parnasiano, meio simbolista. Nele, com a forma sintética do soneto e com o sincretismo poético, a autora, como se pintasse um quadro, mostra-nos um sentimento profundo, a saudade da pessoa amada. amada

É ASSIM...

Lembra suave toque no marfim
de um piano solitário, em gesto breve;
lantejoilas caindo no cetim,
folhas mortas rolando sobre a neve.

Lembra a nuvem silente no sem fim
do céu azul fugindo, branca e leve;
eco apagado, débil som, enfim,
que se erguer em suspiro não se atreve.

Sutil, despercebida como passa,
lembra o traço ligeiro de fumaça
que à paisagem se funde e ninguém vê.

É assim - imperceptível, mas cravada
dentro do coração, como uma espada –
a Saudade que eu tenho de Você.


2. HEITOR STOCKLER DE FRANÇA

Heitor Stockler de França nasceu no dia 5 de novembro de 1888, na cidade de Palmeira, interior do Paraná. Completou o curso ginasial em Curitiba, em 1936. Terminou o curso superior na Faculdade de Direito da Universidade do Paraná em dezembro de 1941.
Como escritor, Heitor Stockler de França destacou-se na poesia, com vários livros publicados e como membro ativo da Academia Paranaense de Letras, em que ocupou a Cadeira n.º 36.. Em 1974, distribuiu uma mensagem original de final de ano: o livro com sua produção poética de 1948 a 1973, editado com o título Poemas de Natal. Convivera com os principais intelectuais do Paraná: os poetas Emiliano Perneta, Emílio de Menezes, Sharffenberg de Quadros e do historiador Rocha Pombo.
Foi poeta lírico de alta sensibilidade e de grande carga emotiva que apareciam em seus poemas que surgiam de sua fértil inspiração. Sua obra poética é bastante grande e aparece como exemplo de otimismo e de alegria de viver. Assim era o poeta que sempre estava ao lado de seus amigos.
Heitor Stockler de França faleceu no início de 1975, em 11 de janeiro. Assim o Paraná perdia aquele que foi considerado o maior poeta paranaense e que recebera o título de “Príncipe dos Poetas do Paraná” em pesquisa de opinião promovida pelo jornal O Estado do Paraná, em 1950.
Como depoimento pessoal, relato que conheci Heitor Stockler de França em 1958, época em que morava em uma pensão para estudantes e funcionários de firmas de Curitiba. Ali, como amigo da família proprietária da pensão, tive a oportunidade de conhecer e conversar com o poeta. Ele era padrinho da filha da dona da pensão. Sempre se mostrou ser um senhor comedido e culto, grande incentivador de jovens que se iniciavam nas letras, ou que tinham vontade de algum dia vir a escrever. Eu, principalmente, conversava com ele sobre poesia. Ele chegou a corrigir uns versos meus dos não gostara. Em 1960, tendo me mudado para outra moradia, perdi o contato com Heitor Stockler de França. Assim foi o nosso breve, mas denso, convívio cultural.
Como demonstração do seu modo de fazer poesia, incluo dois poemas, uma homenagem a seu amigo Emílio de Menezes e um poema sobre o fim de um amor:

EMÍLIO DE MENEZES

Habita, finalmente, o primoroso esteta
A região da tristeza, e da eterna saudade...
Que vácuo por aqui e que mágua secreta.
A amigos corações, acerbamente, invade.

Punge-me recordar que falta faz o poeta
Ideal do trocadilho e de jovialidade...
Era um prazer fruir, na roda predileta
Onde Emílio estivesse, a boêmia alacridade.

E creio sempre mais, Emílio era um somente,
Do artístico soneto ao jocoso candente,
Ele bem conhecia os íntimos arcanos.

Glória! Glória perpétua ao fulgurante artista,
Ao príncipe imortal da sátira imprevista,
A Emílio - o grande Rei dos poetas parnasianos!

FINIS

Talvez não seja o meu amor extinto.
Quem sabe? Penso e fico menos triste.
E algum prazer só de pensar eu sinto...
Só de pensar que o meu amor existe.

- E existe, disse ao coração, - existe!

Mas, me enganei, fora ilusão fugace,
Quanta perfídia ela guardava em si.
E se calou, ao menos se falasse...
Se me falasse eu via que menti.

- Menti, diria ao coração, - menti!

Porém, agora, é tudo descoberto...
Se perguntar-me o desespero seu:
- Que é desse amor, que eu já contava certo?...
- Que é desse amor? Existe ou já morreu?

- Morreu! Direi ao coração, - morreu!

3. COLOMBO DE SOUZA

O poeta Colombo de Souza nasceu em 1920, em Colombo, cidade próxima de Curitiba. Ficou órfão muito cedo, o que o levou a trabalhar em vários lugares. Foi funcionário da Universidade do Rio de Janeiro e formou-se primeiramente em História e mais tarde em Direito.
Autor de vários livros de poesia e inclusive um de teatro, Colombo de Souza, em A Árvore do Sonho se volta ao imaginário infantil. Essa peça teatral saiu em edição que abrigava também a obra poética Poemas Quase Místicos, de 1987. Além desses, publicou treze livros, entre obras individuais e antologias. Iniciou com a publicação de Painéis, em 1945 e como obras importantes, todas em poesia, podem citar-se: Desencanto, 1946; Fuga, 1948; O Hóspede e a Ilha, 1953; Oráculo, 1957; O Antípoda, 1959; Estágio, 1960; O Anúncio do Acontecido, 1968.
Colombo de Souza, como se informa em nota por ocasião do lançamento do livro Fuga foi demitido de uma academia de letras por converter-se à poesia moderna . Sobre Fuga, afirmava-se que era obra hesitante como toda a poesia moderna.
Tive a oportunidade de conhecer Colombo de Souza no início dos anos 60. Ele era grande amigo do Professor Azaury Marés de Souza, meu colega de magistério no Ginásio Professor João Cândido. Grande contador de anedotas fazia com que passássemos longo tempo ouvindo suas histórias e também algumas piadas. Com o passar do tempo, perdi o contato com o poeta, mas ficou em mim uma forte impressão de Colombo de Souza como poeta e como homem bom vivant, e boêmio, Colombo de Souza, como o era também o meu amigo Azaury.
Hoje, em sua homenagem e em homenagem à poesia paranaense, ficam dois poemas para os leitores entrarem em contato com a sua poesia. O primeiro, um soneto, evoca o passado parnasiano/simbolista do poeta; o segundo, versa um tema também muito grato, principalmente aos neo-simbolistas, que é a aproximação da poesia à música:

ALEGORIA DA BAILARINA NOTURNA

Ei-la esculpida em seus mistérios, nua
no camarim azul da imensidade;
muros sem fim encarceram a sua
virgem alma no tempo sem idade.

Ei-la a bailar - a música insinua
a transparência do bailado que há de
vestir de espelho seu perfil de lua,
no encantado mural da Eternidade.

Quem não amar a Bela Adormecida
não cantará com ela o hino da vida,
rosas de amor plantando pelo mundo.

Seus gestos musicais nadam contornos
de almas, sonham jardins, descem ao fundo
do seu cenário de violinos mornos.

ÁRIA PARA FLAUTA

Entre o luar e a praia
Na medida exata

E em meu céu desmaia
Outra ilusão de prata;

Sempre o amor me atraia
No azul da serenata:

- Serás a antiga praia,
Serei o luar de prata.